domingo, 8 de novembro de 2020

 

Estou vestida inadequadamente

Sair às pressas

O decote da vergonha já está esgaçado

A calça apresenta seus fios brancos e a sua fragilidade

A a blusa aperta o coração cinzento.

O rosto foi maquiado de alegria

 O cabelo está esticado para esconder a sua abundância verdadeira

As flores já não precisam de água, o seu plástico resiste.  

Inadequadamente degusto os sonhos da casa grande

Para se assemelhar aos seus donos.    

 

Alexandre Lucas

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 Vamos beber devagarinho

Para sentir a água escorrer entre a língua

Vamos bebendo sem pressa

Beber pela manhã, pela tarde quente

A noite quando as casas fizerem silêncio

Pela madrugada, acordemos para beber mais um pouco da vida

Que nunca se bebe só.  

 

Alexandre Lucas 

domingo, 28 de junho de 2020


Estava do outro lado da mesa. Uma jarra de lágrimas segurava nos olhos
Recortes do tempo, um cinema de nós, numa tela que só eu conseguia ver
Saudades liquidificadas num controle remoto desmantelado
O filme prosseguia, apesar de querer desligar, sem saber o final
Ainda reside cenas da primeira noite de pouca luz, de brilho forte e de algumas reticências
Fico calado e escrito de linhas e de algumas disgrafias
A jarra transborda enquanto o filme não termina.

Alexandre Lucas

quarta-feira, 13 de maio de 2020


A cortina de fitas coloridas dançava com o vento
A luz do sol começava a entrar
Escondia o frio com o teu corpo
A manhã se fazia uma grandeza
Teus olhos verde-azul faziam conexão
Com a sacanagem e a cumplicidade
Adentramos com delicadeza e vontade
Liquidados
Tomamos banho
Providenciamos uma garrafa com café
Sentamos na cadeira
E fiamos com ternura
Um caminho sem chaves e grampos.

Alexandre Lucas     

domingo, 10 de maio de 2020



Sou de muitos amores
Amo intensamente, por instantes e por um longo tempo
Tenho dias lua e de chuva, não escolho
O amor é sempre verbo    
E os caminhos são imprecisos
O amor não se guarda na caixa, muitos menos na cerca
Ele escapole
Já estou na esquina sem bolsa e sem venda
Vai que o amor passa na encruzilhada
E o céu abre, gente se encama
Embaralhar-se e depois cansa
Volto a seguir o toque e a poesia
Do próximo, instantâneo e efêmero amor.

Alexandre Lucas    

sábado, 9 de maio de 2020


Após um dia pintando, subindo, descendo, agachando
Sentindo o  cheiro e as cores da tinta
 Observando cada detalhe
A serenidade e a harmonia dos espaços e das formas  
O quarto já está pronto, lavado e com cheiro de rosas
É hora de refrescar, eu e você e nossas vontades
Um banho meio quente e meio gelado
Nós, nos deslizando de afetos
Na cama, a cânfora e a arnica nos espera  
Em camadas leves vamos aquecendo
Ardidos de prazer
Vamos nos provando,
Por dentro, por fora  e pelos avessos
Na ousadia da carne,  o amor é uma guerra
 Em que queremos morrer.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Desde criança gosto de caixas de madeiras, baús
Quando criança escutava a palavra troço
Troço ruim
Se aquieta troço ruim, tão trivial como arroz ao meio dia
Convivi com troços de troçada uma vida inteira
Talvez esse troço da palavra e o troço da troçada
Fizeram-me gostar dos baús  
Em casa tenho baús que viram cama e mesa
Caixas de madeira de vários tamanhos
Guardo muitas troçadas
Os baús me ajudam a escondem tantos troços
Que nem sei os troços que tenho.

Alexandre Lucas 

quinta-feira, 7 de maio de 2020


A cama continua cheia, alguns livros que me levam a lugares que nunca fui  
O celular repleto de fotos e de estradas
A preguiça espalhada  
Mas a vontade era deixar a cama semivazia
Ocupada, apenas pela cumplicidade dos nossos corpos
Poderíamos viajar, conhecer cada ponto de felicidade
Conquistar em intervalos tremulações     
Teu corpo suado poderia fazer o distanciamento do tédio
A reciprocidade da pele e a temperatura quente
A cama cheia de nós,  enclausurados de gratidão
Nos beberíamos pelo meio, até desfalecer de amor.

Alexandre Lucas      

segunda-feira, 4 de maio de 2020


O espelho quebrado mostra rugas que não tenho
Faço cara de tristeza, medo e alegria e o espelho me acompanha
Tem dias que nem olho para ele, porque a paciência e o tempo  se encurtam
Se o meu espelho falasse
Contariam segredos imundos, dores imensas e quebraria com algumas felicidades
Tem horas que desejo  colocar a cadeira em frente ao espelho
Deixar um copo com agua do lado e ficar  conversando comigo
Tenho saudade de mim, apesar de me conhecer muito pouco    
Ligo a televisão, mexo no celular e sempre me vejo no espelho
Fazendo interrogatórios, e ele, o espelho, sempre  calado.

Alexandre Lucas    

domingo, 3 de maio de 2020

Era uma mesa antiga, continuava firme, madeira de lei
Fazia-se de tudo naquela mesa
Escrevia-se o poema, tomava vinho, reunia pessoas para o café
Resolvia-se as contas do mês
A mesa aguentava a tempestade e os corações de pedra
O tempo furioso e amargo
Mas aquela mesa também era sustentáculo do amor
Nos cabia deitado e sentado
Com o fogo e a ternura das nossas pernas
Com verso ardente dos olhos
 Com a língua sambando na pontualidade dos teus sussurros  
A mesa era forte e aguentava o beijo doce e os trovões que nos residiam.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 1 de maio de 2020


Um dia atípico, saia e batom vermelho
Você estava no jardim e fazia florir desejos
Sentia a brisa e queria que ela nos levasse para outro caminho
Onde o orvalho escorresse sobre os nossos corpos
E que pudesse colher dos teus grandes lábios uma música gemida
Espalhar a primavera sobre teus sentidos
Sentir brotar teu gozo
Mas não foi naquele jardim
Haverá outros jardins,  saias e batons vermelhos.

Alexandre Lucas 

Na porta de entrada tem grades
E eu me iludindo que a casa é sossego
É jaula de ilusões, onde o sol e a liberdade não entram por inteiro
Faz silêncio, desliguei o celular, fui ver as flores,
Sentir o calor no quintal, as flores não alimentam os meus sonhos
A sobrevivência pede socorro, olho para o céu e ele faz silêncio  
Grito para não me sentir só e escuto gritos vizinhos.

Alexandre Lucas  

quinta-feira, 30 de abril de 2020



Quantas histórias amassadas guardamos no sofá, na cama e no armário?
Foi apenas uma ameaça de que seriamos felizes,
As raízes eram fracas, a atmosfera inconstante
Logo, a paixão efêmera   
O amor era muito bom, até hoje faço coleção das cenas    
 Guardo algumas na sala entrada ou outas na despensa
A conclusão é que as histórias não passam, te atravessam.

Alexandre Lucas    



No cinema do quarto disse mentiras verdadeiras no teu ouvido
Escuto, a cada encontro com corpos singulares frases similares
O amor preparado na cama tem dessa trama
De intensidade, verdade e mentira
Tem a palavra repetida
Como comida do dia a dia     
Mas em cada casa
Os contornos não se repetem.  
  
Alexandre Lucas

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Escutava o som da floresta
Fazia sol, tinha sombra próximo as águas
As folhas dançavam de vez em quando
Brincávamos na água, tua roupa, um vestido azul
Molhado, transparecia teu corpo
Tua pele acordada e teus lábios salientes
Fizeram mel, durante a tarde inteira
Depois você desapareceu
Como as águas do rio
Que sempre estão de passagem.

Alexandre Lucas 
Quase que nos enroscamos na escada
Estava escuro e o ambiente cheio de dúvidas  
Adiamos, por alguns instantes demorados
Mas o ar tinha intensidade
A roupa leve se debulhava  
Sentia o relevo da tua tatuagem entre os seios
Tão singelos que cabiam na palma da mão
O arrepio se anunciava
Já estávamos tomados pela liberdade e o sussurro
O espelho do nosso tamanho duplicava o nosso prazer
Cavalgamos na rede, num galope a beira da loucura
Nossas bocas flácidas se visgavam      
Nossos olhares de mordiam de prazer
E a paixão vai se enrocando em cada escada.

Alexandre Lucas 

terça-feira, 28 de abril de 2020


Nos desencontros estamos tentando nos encontrar
Ainda não sabemos quando será a trilha ou próximo chá  
Se nos encontraremos novamente no samba ou no banco da praça
Ainda é cedo, tem pouca luz e o caminho é incerto
Vamos fazer acontecer a hora
A gente junta essa amizade coloca em tigelas de carinho
Acende um incenso da paz, deixa a roupa cair
Vamos brincando com a flor e os lábios
Com os cachos e os sonhos
No outro dia escreveremos sobre nossos segredos
Em cartas sem destinatários  
Combinaremos em linhas embutidas a nossa costura
Para  que o nosso amor seja livre e sem escrituras
Assim como a nossa amizade.

Alexandre Lucas     

segunda-feira, 27 de abril de 2020



Deixamos a louça esperando para outro momento
O celular tocava um blues de morder os lábios
O chão cheio de almofadas acomodava nossas conversas     
Entre poemas e goles de café, orquestramos nosso olhar
A geleia ainda gelada foi passada como tinta no teu e meu corpo
Nossas bocas como pincéis deslizavam em nossas telas corpóreas   
Pintura de arrepio
Conflito saboroso, em que duelam sem vencedores os desejos  
Inexiste foto desse momento ou notícia em jornal
A verdade é que registramos tudo, até o que não foi realizado.

Alexandre Lucas   

domingo, 26 de abril de 2020

Desfaçamos do nosso apartamento
Ele fica vazio, com poucas luzes,  frio e cinzento
A porta ficar emperrada
Falta comida, palavras e alguém para escutar
As torneiras jorram lagrimas e os canos de tanta dor quebram
Fiquemos no relento
Olhando para os céus
Vendo as flores crescerem no horizonte e entre os nossos pés
Lembra?  Já dormimos olhando para as estrelas
E num quarto quente que tinha formato de ferro de engomar
Caminhamos com bandeiras estendidas e divagamos sobre a vida
Tem um forno de saudade, em que o tempo vai aquecendo
Histórias de ternura e cumplicidade
Contínuo querendo dividir os cafés, chás e biscoitos
Saber dos teus sonhos e das luas, aquelas que são só tuas
Enquanto escrevo te vejo, uma balzaquiana indecifrável
Parece que algo parou no tempo, logo o tempo que não para
Nossos cachos precisam da luz dos nossos encontros
Prefiro a nossa casa que tem risos e onde posso te chamar de irmã
Onde a palavra camarada faz sentido,
Tratemos de desafazer desse apartamento, ele não nos cabe
Somos tão grandes juntos e ele fica tão espremido.

Alexandre Lucas

Comprei vinhos e flores
Esperei até a meia noite
Dormi embriagado com cheiro de flores
No outro dia chá forte de boldo
Na rua de caminhos embriagados    
Já não espero
Desisto fácil dos amores impossíveis
E dos incompatíveis
Guardo flores ressecadas e garrafas vazias
Mas hora e outra, encontro copos cheios de felicidade  
E pescoços cheios de cheiros.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 24 de abril de 2020



Que seja para iludir uma tarde ou uma madrugada
Iluda,
Deixe-me passarinho, passeando e voando
Sentindo o suspiro profundo
Cantarolando palavras da cama
Euforias, teu mar salgado
Inunda minha sensatez
Tua voz suave
Quebra as pedras que ainda me restam
Longe das vestes falo sem pontos
E me embaralho nas tuas coxas
Iludo-me e como grão de areia se espalho
Iluda-me,  apenas por um instante.

Alexandre Lucas

quinta-feira, 23 de abril de 2020


Deixou uma poesia escrita
No quarto daquela cidade de mar
Meio dia e meia noite nos encontramos  
Atravessamos a madrugada
Enquanto nos alinhava  
Com fome, sede, verso e sexo
Parecia que tinha tomado um litro de vinho e algo mais
Eu que não bebi nada
Embriaguei-me
Apenas com o teu sabor salgado e muito molhado
Logo cedo você saiu
Com olhos de quem escreveria outros poemas
Como os daquela noite,
Em cima da cama
Ficou seu cheiro e uma calcinha branca.


Alexandre Lucas

terça-feira, 21 de abril de 2020


Tem horas que os teus olhos têm o brilho de vênus

Talvez seja na hora da curiosidade
Quando o desejo ancestral, pré-histórico do entrelaço se acha
Quando a boca e o ventre se encontram em beijos   
Acesso os teus olhos tem mais encantamento   
Fico pensando, são tantas histórias e posições 
Acho não teria um arquétipo que narrasse a pulsão
O intervalo entre um respiro e outro é mais veloz 
Quando toca fogo nos sentidos 
Em chamas teus olhos tem um sabor delirante
Certamente, pela proximidade com o sol profano 
Em que o espanto se condensa em tramas de prazer. 

 Alexandre Lucas 

domingo, 19 de abril de 2020

Na vermelhidão da noite
A luz do pecado ganha forma
Rabiscos na ponta dos dedos, deslizam em cada curvatura  
Na mesa uma taça de vinho para banhar teu corpo,  gole a gole  
Insano o traço da tua boca, deformada de beleza
A noite segue com um movimento intenso
Molhamos nossos lábios de vinho e de beijos
E a noite vai ficando cada vez mais vermelha.

Alexandre Lucas 

sábado, 18 de abril de 2020


Como será teu corpo e tua pulsão?
O que esconde por trás da máscara?
Convide-te para um chão de alecrim com folhas verdes de hortelã
Venha com roupas leves, o chá poderá está muito quente
Normalmente o tempo esquenta e as roupas não fazem sentido
Quero ouvir de perto, sentir a ponta da tua língua no ouvido  
Enquanto  descreve com os olhos o que esconde
Deixa cair tua roupa leve e a pele se transpor
O ar toma outra dimensão
Quando a alma é atravessada
Por uma espada de afagos  
Deixar fluir o cheiro da rosa, a mente a faminta
E nossos encontros para o romper o silêncio dos chás.

Alexandre Lucas  

Quantos faltam para tomar o poder?
As casas cheias de gente e pouca comida, anunciam a ira
Quantos faltam para tomar o poder?
A fome não é um romance
Quantos faltam para tomar o poder?
A dor social é uma chuva de desigualdade
Quantos faltam para tomar o poder?
Estamos no limiar da paciência
Quantos faltam para tomar o poder?
A exploração e a opressão é intensa
Quantos faltam para tomar o poder?
Sozinhos e com as melhores ideias, não se faz revolução  
Quantos somos e quantos faltam?
Grávida está a barriga dos nossos sonhos
E a interseção das nossas lutas
Vamos beber no seio da esperança
Multiplicar os nossos braços, ampliar nossas vozes
Tomar o poder
Dividir o que nos foi negado
Encher a casa do necessário
Compartilhar a poesia da fartura   
Tocar um novo sonho
Onde o povo seja felicidade e necessariamente poder.

Alexandre Lucas

sexta-feira, 17 de abril de 2020


Tristeza é um problema de cabeça,
Talvez por isso meu pai sempre me ofereça paracetamol
Achando que é uma dor de cabeça  
Uns dizem que a felicidade está à venda na esquina
Outros que ela é arrancada de dentro de cada um
Eu que não entendo muito da felicidade
Sei que a tristeza, faz visitas sem convite
E as vezes passa triturando o horizonte e demora dias
Tem momentos que não duram nem três minutos.
Nunca convidei tristeza nenhuma
Sempre preferir acenar para felicidade
Mas parece que ela é teimosa e só vem quando quer
Já a tristeza, sem aceno e sem convite
Chega com mais frequência
Só sei que nem tudo é como eu quiser.

Alexandre Lucas  


Acendi o último incenso, ainda restava um palito de fósforo
Apenas um
Meu nariz sentia o cheiro suave e intenso daquela noite
Um charuto cubano continuava intacto
A boina preta estava junta da bolsa e dos livros
Uma composição de juventude e revolução
Teus olhos pequeninhos se abriam de pecado
O chão coube a nossa dança
Uma esteira improvisada
Acariciou nossos corpos
Teu rosto continua visitando minhas lembranças
Tomaremos vinho e chá
Porque o nosso encontro é sempre profano e sagrado.

Alexandre Lucas  

quinta-feira, 16 de abril de 2020


Andar de bicicleta, sentir o vento atravessar a alma
Esfacelar a tensão, olhar lentamente o caminho, sem pressa
Experimentar o abraço da paisagem e rir com coisas à toa,
Esquecer as panelas, que de tantas estão esquecidas na pia
Paro para dividir um poema com a rua
Ando só e cheio de gente e com uma bacia de desejos
Cheio de crenças acredito que o amor está brincando de esconde-esconde
Hora e outra, encontro com ele despido para abrir a imaginação
Agitar alguns momentos para a paz
 E aí, deixo a bicicleta de lado.

Alexandre Lucas      

quarta-feira, 15 de abril de 2020


O lençol de chita vermelho tinha flores grandes, amarelas e azuis
Cobria a cama, um baú onde guardava algumas pinturas e lembranças
A casa era cheia de livros, quase sempre estava fechada
Mas sempre abria para um poema sem roupa
Num desses poemas, você tirava os óculos
Como descrevesse uma cena de Sharon Stone
Teu olhar carregado de sexo
Tomava o lençol vermelho
Plena, tocava as estrelas e rabiscava o céu com as unhas
Já era manhã, acordava com os carros poluindo a cidade
Parei alguns minutos para lembrar de cada cena
Ainda bem que a vida é feita de sonhos também.   

Alexandre Lucas     

terça-feira, 14 de abril de 2020


Um olhar de segredos que flutua
As vezes dança como uma bailarina
O que dizem? Nunca sei
Tem a profundidade do mistério
Tem a missão de inquietar
Parece que solta versos, como canto de sereia
Tem uma beleza que renasce
Com singela doçura
Tem também pétalas de dor e solidão
Esse olhar que voa para dentro e para o além-mar   
Que se esbugalha de esperança
E que tempera a vida.

Alexandre Lucas  


Era para ser um encontro singelo
Um aperto de mão rápido, sem beijos no rosto e nem abraços
Esperava apenas um envelope e uma saudação de despedida
Ela chega, estende a mão para entregar o envelope
Mas parece que a carta estava no seu olhar, aberta e sem segredos
Já não sei mais o que tinha no envelope, pouco importa  
A realidade já era outra
Já queria o abraço,  o beijos e aperto de extremo carinho
Saturado até mesmo do peso dos envelopes
Precisava sentir naquele instante
Apenas o peso dos lábios, o volume do seios
O tempo esquentava,
A carta já se fazia corpo
E escrevemos com poucos pontos e muitas palavras
Tudo que tinha para dizer naquele momento.

Alexandre Lucas      

domingo, 12 de abril de 2020


Fizemos amor ali mesmo
Era madrugada
Foi dentro do carro que tinha o  tamanho dos nossos corpos
Chovia  
Estávamos quentes e suados
A chuva não parava
Nem a nossa vontade
O sol começava a se espreguiçar
Tínhamos que voltar,
Depois desse dia
Já eram outros carnavais.

Alexandre Lucas   



Manda-me um verso
Entrar com olhos e lábios
Tira-me do tédio
Sequestra-me para tua noite
Pode ser qualquer hora, não precisar ser a noite
 Balança sentada nos meus os braços
Debulha-me e volta quente
Faz frio
Volta.

Alexandre Lucas

sábado, 11 de abril de 2020

Ontem quase arrastaram nossa coragem
Com botas e palavras, com olhos esbugalhados e corações perfurados
O texto foi censurado e nossos nomes apagados
Tenho medo, quero abraçar meus camaradas 
Pegar na mão e sair organizando os sonhos 
Algo nos isola, 
Parece que o lugar mais seguro são nossas casas,
Nem todos estão seguros
Na rua, o papelão é a única casa para alguns 
Isso dói, porque minha casa continua sendo o mundo, nossas vidas
O desejo de dividir sorriso, terra e produção,     
De ver nosso povo escrevendo nossa história
A ciência ampliando o bem viver
Para gente produzir, estudar e amar,   
O poema não pode ser lido pela metade
Gosto de sentir o gosto do beijo e da comida
Esmagar os pesadelos,
Por nós e pelos nossos lutamos, o nosso verso não vai morrer
Lembro de Frida e o quanto as suas dores eram universais
Sinto, que não choro só, nosso choro nos banha de amor
Mesmo nada sendo permitido,
Ousamos sonhar
Amanhã vamos nos abraçar, olho no olho e brilhos
Ainda pula a coragem e a esperança se sacode
Hoje, continuamos fiando a nossa rede e nosso canto coletivo. 


Alexandre Lucas

quarta-feira, 8 de abril de 2020



Escrevo desescondido  
Cada palavra é um molotov para tuas paredes de mentira
Não haverá luar, na tua embriaguez antidemocrática
Pequeno-burguês, teu papel é lamber o assento do trono
É esconder os jornais e fabricar obstáculos
Carrego na caneta,  a ternura e um  punhal
Para os companheiros e companheiras
A delicadeza da palavra e do ato
Para os traidores, nem beijos, nem abraços
Teremos ainda noites e dias de escuridão
Num dia claro de consciências, o povo tomará o poder
Os traidores de classe, esses já não sei onde  estarão.

Alexandre Lucas    

terça-feira, 7 de abril de 2020



Eu que não tenho a lua
Lembro das luas que compartilhamos
Das noites divididas entre conversas e risos
Das doses de estímulos e dos versos compartilhados
Da tua voz, seduzindo a minha imaginação
Quantas vezes nos assistimos no palco?
Ainda temos os mesmos cachos
Aumentamos as poesias e a canção continua viva.

Alexandre Lucas  



A sala é o refúgio
Quatro paredes
Um sofá, alguns livros, algumas cadeiras,
Pela janela vejo o sol entrar sem pedir licença
E a sua saída, sem despedida
Escuto um jazz para acalentar os monstros
A porta fica na minha frente, pouco abro   
Depois da sala o tumulto é maior
Bolo com conta de energia
Máquina de costurar com papel higiênico
Três televisões, uma no chão
Creme dental e antenas em cima do guarda-roupa
Chave de fenda e barbeador espalhado no armário
Cadernos para anotar sonhos e números
A sorte parece que nunca foi gentil   
Na mistura, já não sei como se divide cada parte da casa  
E como divido a minha paciência
A desordem é como o sol nunca pede para entrar, entra
Enquanto isso, vou procurando a sala, sempre próxima da porta de saída.

Alexandre Lucas     




A sala é o refúgio
Quatro paredes
Um sofá, alguns livros, algumas cadeiras,
Pela janela vejo o sol entrar sem pedir licença
E a sua saída, sem despedida
Escuto um jazz para acalentar os monstros
A porta fica na minha frente, pouco abro   
Depois da sala o tumulto é maior
Bolo com conta de energia
Máquina de costurar com papel higiênico
Três televisões, uma no chão
Creme dental e antenas em cima do guarda-roupa
Chave de fenda e barbeador espalhado no armário
Cadernos para anotar sonhos e números
A sorte parece que nunca foi gentil   
Na mistura, já não sei como se divide cada parte da casa  
E como divido a minha paciência
A desordem é como o sol nunca pede para entrar, entra
Enquanto isso, vou procurando a sala, sempre próxima da porta de saída.

Alexandre Lucas     


segunda-feira, 6 de abril de 2020



Aquela luz do pôr-do-sol  
Lembrar o teu sorrir
Despojada na cama
 Fazendo renascer os melhores sonhos    
Lembro de cada estrada
Do caminho que fiz pelo teu corpo
E dos nossos cabelos assanhados
Entre mordidas e o calor que não vinha do sol.

Alexandre Lucas  

sábado, 4 de abril de 2020


Estou procurando mãos
Anunciei na porta do meu olhar
E descrevi  
Dessas que que dão volume a textura da pele
Que escrevem versos quentes descritos com a língua
Quero mãos atrevidas, que viajem da boca aos pés
Mãos que segurem, brinquem e tragam purpurina
Que possam volta a cada quatro poesias
Dez vezes na quarentena
Ou quando quiserem.

 Alexandre Lucas    

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Medo de perde o prato
O sonho e a coragem
A esperança ainda é grande
Mas a perda é constante
 Marcas escritas com açoite
E a coroa continua com espinhos
De Jesus, o dividir ainda não foi escutado
Negro, pobre e excluído fica com a menor parte
Do prato que também lhe cabe.

Alexandre Lucas 
Medo de perde o prato
O sonho e a coragem
A esperança ainda é grande
Mas a perda é constante
 Marcas escritas com açoite
E a coroa continua com espinhos
De Jesus, o dividir ainda não foi escutado
Negro, pobre e excluído fica com a menor parte
Do prato que também lhe cabe.

Alexandre Lucas 

segunda-feira, 30 de março de 2020



Leva a birra e a raiva
Faz despedida do peso
Conversa com teu silêncio
Deixa as lágrimas saírem
Procura na relva
Sombra e som
Debulha a saudade
Para se reencontrar com o riso
Escutar a cantora que baila tua alma
Segue como uma folha levada com o vento
Para encontrar com outras folhas e juntas voarem.

Alexandre Lucas       



No interior das minhas lembranças
Trago algumas fogueiras
 O desejo de viver intensamente
A saudade dos braços quentes e acolhedores
Na mudança fui deixando ou fui deixado em outras casas
Pedaços que se espalham,
Vontade de saciar, de beber na boca e de ler nos olhos
O verso contado na cama.

Alexandre Lucas   


 O que tem no miolo da nossa luta?
A ancestralidade dos meus e dos nossos
O pote e a luta braçal   
A preta , o preto, eu que não sou preto
o popular, a ciência e a resistência
A fogueira para esquentar a alma
Lembrar das mulheres queimadas na fabrica  
O terreiro para aquecer a esperança
As crianças nos ensinando a repensar
O verso estampado nos nossos passos
Bandeiras encarnadas
E sonhos sem gaiolas.

Alexandre Lucas 

domingo, 29 de março de 2020

Recomeço a cada manhã a desenhar teu corpo
Na tranquilidade da noite, rompo o silêncio
Com fé toco tua pele  
Canta em gemidos a tua liberdade
Faz casa, samba e  amor   
Amanhece, guardo a gratidão
E o sabor enviesado dos teus grandes lábios.

Alexandre Lucas 

Meia-luz, um jazz de fundo
Teus seios desenham xícaras
Tomemos o café dos desejos
Retira o girassol dos teus cabelos
Para assanhar o teu olhar  
Luz e alegria no teu rosto
Sinto na ponta dos dedos
A tua chuva, molhada de prazer
Passo hortelã verde pelo teu corpo     
Contorno teus lábios
Sinto o gosto  ventre
e me faço dança entre teus braços.

Alexandre Lucas        




Estão vendendo na esquina  deus, céu e a felicidade  
O amor entrou em escassez,
Os 10 mandamentos foram fuzilados
A armaminha estava na mão
A fé está perdida entre amar e matar
Na maquineta do cartão passa o pecado e a prosperidade
Não existe paz na guerra
Pessoas passam fome
E o pastor camuflado de cordeiro recomenda o ódio     
Maria, que não segue recomendações
Planta a vida.

Alexandre Lucas    




O terror devasta  sem esconderijo
Bolsonaro se viraliza nas botas e nos lambe-botas
Nos shopping da fé, nos templos de incubação
No homem chamado de bem, cumplice do capital     
Presidente da burguesia, delinquente
Subsidio do ódio
A saúde mental se desmorona   
Marx que não é santo preconiza
Trabalhadores, uni-vos. 

Alexandre Lucas

O estado de desejo não tem ordem
Chegar de qualquer jeito, sem governo
Faz caminhos que os olhos viram
Sobrevoam a imaginação
Em dias frios e quentes,
A satisfação se borda
Numa trama que não se tece só.

Alexandre Lucas 

sábado, 28 de março de 2020


Amargo deixa só o prazer de tuas entranhas
Vamos induzir o fogo
Desvestir a curiosidade
Espalhar a língua e desmedir o pudor
Faz calor e já estou nu
Áspero de desejo
Descrevo retalhos
Peles costuradas com suor
Horas dedicadas a transgressão da palavra
E da calmaria.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 27 de março de 2020

As notícias são comidas numa sofreguidão
Só é possível ver as manchetes
Os conteúdos se perdem na velocidade dos conflitos
É uma masturbação de ideias sem gozo nenhum
Fé e perdão, talvez seja necessário, mas é preciso ação
A vida está longe de ser resolvida no coração
É  preciso reduzir a velocidade das falsas notícias
Quero sentar na calçada e ver despreocupado
A amplidão da casa para o tamanho da formiga
Sentir o tesão com calma e por partes
Esse tempo veloz apressa os nossos desejos.

Alexandre Lucas

quinta-feira, 26 de março de 2020


Escuto latidos nos centros comerciais da fé
Na sua prosa e risada  
O vendedor no seu estridente microfone
Vende toneladas de vento, aurora e prosperidade
O céu está em suas mãos     
Logo o inferno estaria entre nós
E o amor? Esse virou uma navalha de ódio
Que corta a sabedoria e a razão
O canto da imbecilidade está em marcha
Não levante os braços, é um assalto na certa  
Prepare um café e dialoguemos sobre outro amor.

Alexandre Lucas 

A mala continua pronta 
Deixo sempre próxima da porta da saída
Mesmo com os sapatos gastos e os cabelos brancos
É sempre o momento de desabastecer a dor
De encontrar amoras, tomar leite quente
Duelar com o nariz, Sair do atropelo
brincar com som da cabaça e  da caixa com os seus  comprimidos
Fazer samba e cultivar o nosso carnaval.

Alexandre Lucas   

terça-feira, 24 de março de 2020


Tinha que ser rápido
Naquele instante
Meia roupa, bocas coladas,
Trovões dentro e fora
Calor e sussurros tomando o quarto
Sonhos em volúpia
Antes do gozo, uma batida na porta
O caos indesejado se instalava
Rostos desconcertados
Daquela manhã guardo
As palavras, o sabor e a súplica de prazer  

Alexandre Lucas


A poesia sentou na travessia da vida
Conversou com a alegria e a tristeza
Fez silêncio para escutar a sua voz
E viu que os valores dividiam os sonhos
Umas famílias comiam e outras olhavam  
E a cada travessia, os punhados de versos
Transbordam  des/confiança.
     
Alexandre Lucas

segunda-feira, 23 de março de 2020



Falta quanto tempo para tudo isso passar?
Entre as paredes a solidão se estende a outras paredes
O dissabor é servido por insanos maestros
O coração parece diminuir, parece que estamos de partida
O surto institucional anuncia a barbárie
Tem um mundo que pede socorro
E socorro nasce em cada casa  que não pode esperar pelo amanhã.

Alexandre Lucas   


Só para rimar
Combina empatia com poesia
Resiliência com resistência
E fé com café
Na receita pronta da vida
O amor se encontra na bula
A rima na bússola
E o  sentido perdido   
Próximo do discurso
Conjugue a ação
A luta nos ensina
Que a vitória é casada
E não é filha dos bons modos
Mas para que servem os bons modos?
Para calar a solidariedade
Para presentear as mulheres durante o dia
E assassiná-las durante a noite?     
A rima que combina o belo com a contradição
Não preenche a poesia
E nem faz revolução.

Alexandre Lucas 

domingo, 22 de março de 2020



Faz frio, o tempo está deserto
O amor se perdeu no caminho
O filho sofre,  o trem da comida atrasou
Talvez não cheguei hoje e nem amanhã
As ovelhas estão entre as cercas
Fazem um lençol branco
A fome me encontrou no caminho
Combinei com ela
De derrubar cercas
E dividir carnes.

Alexandre Lucas