terça-feira, 19 de março de 2019

Que os abraços possam ser quentes
Mas que a cidade seja agradável
Que os tapetes pretos de asfalto
Possam ser xadrezes de rochas
Que as águas banhem o corpo do solo
E as árvores possam acolher os afetos
Que o ar seja outro, menos carros
Ruas misturando gente e edificando saberes
Que os pássaros sejam livres na cidade
Que as frutas estejam ao alcance das mãos
Uma cidade que alimente barrigas e sonhos
que a poesia seja espalhada por toda a cidade
substituindo todas as embalagens.
Que as crianças conheçam a cidade sem os enlatados
E sem o véu cinza de urbanização antissocial.



Alexandre Lucas

domingo, 17 de março de 2019

Tenho  a idade dos meus sonhos
As vezes,  eles, meus sonhos    
Tem a idade do meu filho
As vezes eles são pequenos,
Outras vezes  gigantescos
Alguns são novos e outros bem velhos
Tenho a idade para beijar na boca
E para vestir o corpo despido
Tenho  idade dos que choram e dos que gritam
Dos que calam também
A idade nunca deveria ser medida pela carcaça
Os sonhos nunca se medem pelo tempo.


Alexandre Lucas 

sábado, 16 de março de 2019


Já não tenho lembranças do sabor do teu beijo
Que se fez verso como a primavera, passageira
Tua boca fez silêncio, mas teus olhos escreveram tantos poemas
Que cheguei a pensar que Paraty
Estava bem aqui, nos toques das mãos.

Alexandre Lucas      


Queria comprar felicidade na esquina
Mas se na esquina tivesse felicidade para vender
Muita gente ficaria infeliz
Não teriam como comprar felicidade
Dizem que a felicidade não é permanente
É visitante
Acredito nisso
Entretanto fico na dúvida
Se ela não está à venda esquina.

Alexandre Lucas   

terça-feira, 5 de março de 2019


Vesti a melhor roupa, a que estava limpa e confortável
Não tirava os olhos do relógio
Dias confeccionando risos,
Se aproximava o momento
O relógio parecia mais lento
A roupa limpa e confortável
Foi aos poucos ficado suja e suada
O riso murchou
A porta que esteve sempre aberta
Carrega as lembranças das esperas  
E o olhar triste
De quem não sabe se haverá primavera.

Alexandre Lucas   

segunda-feira, 4 de março de 2019


Eu que me abandono no canto do quarto
Procurando versos para se enrolar
Tranco-me num vaso de desejos
A noite parece silenciosa, mas dentro de mim faz barulho
O vaso quebra, sangro de palavras
E o poema escorre cheio de dor.  


Alexandre Lucas


Todos estão ocupados
Enquanto isso,  converso
Com os monstros desocupados
Eles sempre têm tempo, além do desejado
Escrevo
Como se tirasse espinhos dos olhos
É porque tem que sair
Enquanto converso como os monstros.

Alexandre Lucas   


Apaguei palavras e recomecei
O poema estava preso e o  poeta atordoado   
O poeta pari e aborta o poema
O poeta é o pai e a mãe do poema
Mas o poema já não é mais seu.  


Alexandre Lucas