terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

 

Tem um cachorro preso latindo por liberdade

Tem outro

De bucho cheio e solto

Travestido de bem, homem já é

Coturno verde e amarelo

Para aulas de continência

Versos de arma e ódio

Camufladas de Deus e de cidadania

Tem ossos espalhados

E cachorros famintos.

 

Alexandre Lucas     

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Chega com força, joga um monte de palavras

Dessas que faz a gente atolar de alegria

Fuxica sobre a beleza dos que vacilam

Aprender a caminhar sem atropelar

Desfaz-se das toxinas

Que tua boca espalha na beira do abismo, o ouvido

Fale—me umas coisas na beira dos olhos

Que me façam desejar andar contigo

Assim pode chegar com toda força.

 

Alexandre Lucas    


 O preto com outro preto 

Beijou sem mentiras a verdade 

Falou de corpos escondidos e de desejos encaixotados

Nada penteado, a realidade não tem maquiagem para filmagem

Beijou por mim, por nós e por quem se atenta 

Beijou pelas pretas e pelos pretos 

Beijou pelos corpos que se escondem todos os dias no armário 

Pois não podem sair penteado para amar

Beiijou para hipocrisia da casa e do mundo

Beijou como devem se beijar  os homens nas praças, sem dor e esconderijos

O preto beijou outro preto  para todo mundo ver e alguns se doer

O problema não é do preto, muito menos do beijo 

O problema talvez seja torturar o amor

Alisar a complexidade da vida

Dividir as carnes 

Como no frigorífico, onde o preço é  diferenciado.  


Alexandre Lucas

A notícia  anuncia que o café  esfriou 

E que o trabalhador tem que tomar alegremente frio

A sua força  de trabalho 

Na caminhada o filho e a  amiga do trabalhador resolveram queimar a notícia e esquentar o café

Para não beber de tanta injustiça. 


Aĺexandre Lucas