quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sou do Gesso 

Cresci entre rochas e vagões 
Trilhos, areias e mato
Escutei orquestras de cabarés
Vi jogo de bolas e tapas 
Soltei pipas, bilas e traques 
Assisti aos vôos dos urubus 
Sobrevoando carniças e lama
Brinquei no campo sem horizontes 
Ouvir o trem e sentir a trepidação
Bingos, bicicletas, lutas e sonhos
Couros, facas e colas,
Tesouras, panos e revistas
Batuques, Nunchakus e ninjas
carros de flandes e castelos de areia
Porcos, torresmos e gritos
Brigas, rezas e mortes
Amores e conquistas
Corrida no telhado
Quadrilhas e fogueiras
Povoam a paisagem das minhas lembranças
Na beira do Gesso.

Alexandre Lucas


Aprendi nu 

Nunca foi fardado que o conhecimento veio 
Não foi o tênis que tornou o ensino didático 
Muito menos a calça, a meia e a blusa 
Risquei a farda, calcei sandaria e rasguei a calça 
Andei nu 
Deitei-me em cima mesa 
Fiquei em pé em cima da cadeira 
Usei chapéu, 
Sentei no chão
Escrevi palavrão
E desenhei meu sexo na parede
Ao lado da palavra opressão
E mesmo assim aprendi
A compor outra ideia de escola e libertação.

Alexandre Lucas


Quando todas as flores murcharem
Fabricarei os sonhos
Tomarei banho de lagrimas
Para banhar o encardido da alma
Pintarei o sol, o rosto e as angústias
Ficarei de frente para o espelho 
Remexendo a cara
Para espantar a cara severa
E fazer dar dor uma porção de primavera.

Alexandre Lucas

Não nego, a vida é áspera
Insisto em viver 
Em andar de mãos dadas
De escrever poesias com o corpo 
Conversar sobre fraternidade 
Cutucar a parede cinza
Acreditar nas primaveras 
E saber das outras estações 
Sentir o vento dos suspiros 
E a brisa das praças 
O lambuzar dos sorvetes e o algodão dos sonhos
Não nego, insisto em acreditar.

Alexandre Lucas