segunda-feira, 30 de agosto de 2021

 

Hoje é um daqueles dias em que as palavras escapolem

Mas o desejo te dar palavras ocupa minhas inúmeras intenções

Acariciar tuas mãos com os versos mais fraternos do caminhar alado

Acolher tuas dores, com as palavras mais confortáveis

Desordenar teus sentidos, com sussurros ao pé do ouvido

Gritar alinhado ao teu grito,  desaforos contra o sistema apodrecido de exploração

Desvendar as palavras flores dos nossos jardins

Jogar molotovs incendiários da palavra solidariedade

Alinhas nossas bocas numa linguagem de fogo e carinho

Que não nos faltem palavras para dizer que o amor é uma construção diária.

 

Alexandre Lucas         

sábado, 28 de agosto de 2021

 Toda vez que acordava

Olhava para o céu
Ansioso,
Para saber se ele continuava no mesmo canto
Tudo muda
Mesmo o que parece improvável, como o céu
E a cada dia ao acordar
Esperamos que o céu nosso de cada dia continue no mesmo lugar.
Alexandre Lucas

quarta-feira, 7 de julho de 2021

 

Abrimos uma estrada para se cansar de felicidade

Escrevemos confidências e declaramos seguir

A estrada parece ser longa, vamos seguindo

A cada passo uma semente,

Quando cansamos, deve ter uma árvore cheia de sombra

Se não tiver, a gente inventa,

Só para ter sombra e ombros como travesseiros

Vai chover de nós, mas a gente está na peleja da estrada.

 

Alexandre Lucas           

 

Continua desescondida  a lua e o sol

Os versos de ternura

Aqui tenho tecido um manto de esperança

Que cabe os sonhos e o desejo de acertar

O alvo é a felicidade construída

Acredito nos bordados sinceros

Fiados com a profundidade dos olhos

E carregados das adversidades indesejadas

Nem sempre é possível fiar,  apenas,  com as linhas que escolhemos

E assim vamos deixando aparente a alma, carregada de mistérios

Deixo fios para que possamos costurar os risos rasgadas

E alimentar a crença de que o amor, é uma construção cheia de nós.    

 

Alexandre Lucas 

sábado, 26 de junho de 2021

Colher sementes como quem faz versos
Arar a terra, embrulhar as sementes e ir molhando
Fazer brotar flores
Para arregalar os olhos
Encadeados de felicidade
Colher sementes a cada instante
Para que o poema sempre se faça
Da simplicidade e dos encantos
Em que ir a esquina e ao jardim tenham a dimensão da viagem inesquecível.
O amor, talvez possa ser esse passeio perto, onde as sementes estão sempre brincando de nos encantar.

Alexandre Lucas 

segunda-feira, 7 de junho de 2021

  

O amor bateu na porta  

Era um amor magro e calmo, ainda ria

Mas do amor a gente não espera nada

O amor bateu na porta, pulou a janela

E bateu na cara

O amor pediu desculpas

Derrubou a porta e a janela

E nunca mais o amor meu viu.

 

Alexandre Lucas

quarta-feira, 5 de maio de 2021

 Era um preto

Já morreu velho 

Quando pequeno achava que era branco, o preto velho

Quando apareceu meu cabelo branco 

Descobrir que meu avô era preto

Acho que nem meu avô, um preto que já era velho 

Não sabia de sua cor.  


Alexandre Lucas

segunda-feira, 3 de maio de 2021

 Comi um poema sorrindo 

E com purpurina traquinando nos olhos 

Enchi a boca de palavras e soprei como quem sopra sonhos

O poema chegava na barriga e acordava as borboletas 

E elas saiam voando e pintando os versos 

 Dentre as palavras tinha bolo de cenoura e chocolate 

Feito para compor a melhores partes do poema 

A parte do tempo e do cuidado, do agrado e da maciez dos gestos. 


Alexandre Lucas

sexta-feira, 16 de abril de 2021

 

Você abriu a porta com aquele vestido aparente seios

E uma voz macia que parecia fazer cama

Seu corpo nu configurava na tela atravessado de facas e tesouras

Teus olhos cor de esperança declarava ternura

E escondia um turbilhão de segredos

Líquidos de uva, acalentava descobertas numa dislexia de afetos

Tuas palavras recheadas de mãos me faziam sentir a dança das folhas e os terremotos

Já conversávamos quase despidos, ainda não dava para ver as cicatrizes

Apenas os olhos famintos de quem quer descobrir o mundo numa noite

Enquanto isso nossos dedos se despediam com juras de cafuné.  

   

Alexandre Lucas

sexta-feira, 9 de abril de 2021

 

 

O momento é de abrir igrejas e de edificar valas

De erguer profetas do dinheiro e da mentira

De esconder o evangelho em butijas sem mapas

De fazer filas para o dízimo e para morte  

Quantos tombaram procurando deus entre as paredes

E nos humoristas do ódio, travestidos de pastores?

Mas o momento também é de negar a mentira

De eleger outras verdades,

De colocar na balança a ciência e a vida,

De segurar esperança e não desabraçar do que deixa a alma em pé.

 

Alexandre Lucas

terça-feira, 6 de abril de 2021

 Recebo confidências de amor em cartas rabiscadas de suor

Efêmeras paisagens de sonoridades de prazer

Lacradas de segredos,

 Se perdem nos quartos

As vezes encontramos abertas

Para lidas de saudade.

 

Alexandre Lucas 

domingo, 28 de março de 2021

 

Existe meio-fio

Entremeio

Meia

Meia dúzia

A vida existe, sem meia vida

Uma vida que jamais pode ser meia, importa

Meia dúzia de vidas importam muito mais

Não será meia dúzia que não se importam

Que mataram direitos e sonhos.  

 

Alexandre Lucas

sexta-feira, 26 de março de 2021

 

O amor veio numa barca

Era alto mar

O amor vinha, balançado

Quase virando,

O amor se aproximava

Mais ainda estava em alto mar

Era alto e era mar

Eu que não sabia nadar e tinha medo de alturas     

Pensava em me jogar

O amor continua numa barca no alto mar

Quase virando

Sempre chegando.

 

Alexandre Lucas  

sábado, 20 de março de 2021

 Guardo segredos de amores espalhados

Tento lembrar do último beijo

De quando a barriga viu borboletas e os olhos se encheram de purpurina 

Faz tempo que reside passos lentos e abraços desacordados

Tento acender uma fogueira batendo pedras em dias de chuva

Apesar do frio, ainda guardo amores espalhados.

 

Alexandre Lucas 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

 

Tem um cachorro preso latindo por liberdade

Tem outro

De bucho cheio e solto

Travestido de bem, homem já é

Coturno verde e amarelo

Para aulas de continência

Versos de arma e ódio

Camufladas de Deus e de cidadania

Tem ossos espalhados

E cachorros famintos.

 

Alexandre Lucas     

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Chega com força, joga um monte de palavras

Dessas que faz a gente atolar de alegria

Fuxica sobre a beleza dos que vacilam

Aprender a caminhar sem atropelar

Desfaz-se das toxinas

Que tua boca espalha na beira do abismo, o ouvido

Fale—me umas coisas na beira dos olhos

Que me façam desejar andar contigo

Assim pode chegar com toda força.

 

Alexandre Lucas    


 O preto com outro preto 

Beijou sem mentiras a verdade 

Falou de corpos escondidos e de desejos encaixotados

Nada penteado, a realidade não tem maquiagem para filmagem

Beijou por mim, por nós e por quem se atenta 

Beijou pelas pretas e pelos pretos 

Beijou pelos corpos que se escondem todos os dias no armário 

Pois não podem sair penteado para amar

Beiijou para hipocrisia da casa e do mundo

Beijou como devem se beijar  os homens nas praças, sem dor e esconderijos

O preto beijou outro preto  para todo mundo ver e alguns se doer

O problema não é do preto, muito menos do beijo 

O problema talvez seja torturar o amor

Alisar a complexidade da vida

Dividir as carnes 

Como no frigorífico, onde o preço é  diferenciado.  


Alexandre Lucas

A notícia  anuncia que o café  esfriou 

E que o trabalhador tem que tomar alegremente frio

A sua força  de trabalho 

Na caminhada o filho e a  amiga do trabalhador resolveram queimar a notícia e esquentar o café

Para não beber de tanta injustiça. 


Aĺexandre Lucas