segunda-feira, 30 de outubro de 2023

 Recolho em palavras

Histórias recortadas

A esperança briga com as dores 

A menina fala do presente que não teve

O menino sonha em ser policial 

O amor entrelaça todas as histórias  

Fixadas com espinhos

Roubo as narrativas 

Misturo as vidas

Invento verdades

Escritas com sangue.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

 Quando me perdi

Estava me encontrando 

Aos  12 anos  tomava cachaça

Rezava o pai nosso

Carimbava a cidade

Estava aprendendo a dançar com a língua 

Nas entranhas alheia

Ainda era menino

Dormir nos braços da noite 

E nos abraços  provisórios

Quando me encontraram 

Só conheciam as flores plásticas

Eu tenho  cheiro e um moinho de histórias 

Coisas e gente não se   separam

Se moem

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

 O  menino traquinava sorrisos 

Faz muito tempo  que o  desvejo

Talvez tenha me perdido dele 

O encontrei outro dia,  sorria

Parecia feliz, 

Segurava um telefone antigo 

Mas não entendia dos números 

Talvez quisesse falar com alguém 

Estava de camisa xadrez com seus botões

Deu vontade de trazer para  casa

Mas nos desencontramos 

Talvez ele esteja aqui, pertinho 

Estou tentando encontrar

O  Traquinador de  sorrisos.

sábado, 21 de outubro de 2023

 Andava, nadava, dançava 

Decepei as pernas e os braços

Balanço na rede e no redemoinho de palavras 

A rua enterrou as flores

E as horas enganchou o ponteiro

As lágrimas

Andam, nadam e dançam

O galo  hoje não cantou 

Deu a vez ao poeta 

Cansado, o poeta também não cantou

O poeta lembrou de Kássia Luiza, poeta também 

Poeta desde que a dor  chegou como palavra, 

Ela costura  versos 

Diz que quer celebrar um novo mundo

e ser capaz de   suportar a cidade 

Apenas treze anos, já poeta

Mas quem disse que poesia tem idade? 

A vida não é literatura, quem dera 

Mas a literatura é a vida

Por isso decepo pernas e braços

Encontro com a poeta no fim do caminho e começo a plantar flores.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Na varanda rasgo as últimas palavras

para compor um poema incompleto 

Noite deserta

O punhal perfura o escuro 


Sangra o peito do tempo


O tempo não tem peito


O punhal briga com o vento


Cansado, desmorono da varanda


deslizo entre os galhos das roseiras


Sangra


as palavras voam 


O tempo que não tem peito


são como as águas dos rios


Passam.




quinta-feira, 19 de outubro de 2023

 Trago o soluço e a  barriga trêmula

É despedida 

O céu fica colorido, 

Como  a esperança do reisado 

Que esconde por trás das cores 

A ferida em vulcão

Os tambores precisam ser tocados

Canto fúnebre, celebração de reencontro

Trago as batidas orquestradas 

Na pele do corpo

Corpo tambor

É preciso ir ao sol

Refazer o som

Tocar a revoada.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

 Esperei o verso verde, novo e bordado 

Estendi a tigela, a moeda tinha duas faces, 

Escolhi par, lançado o dado

Deu impar 

O tecido ficou no bastidor 

Aguardado o abraço dos fios

Que desapareceu 

Como as sereias 

Que deixam apenas o mar.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

 A mangueira canta, o desfile das águas

É manhã, a larangeira se banha

O trem marcha, as casas tremem 

A flor desabrocha

A mulher toma café no meio do caminho, anda rápido 

Busca o pão e se desencontra da poesia

A mangueira canta,enquanto,  a vida briga.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

 Deixei cacos de vidro espalhado na língua

A palavra saiu sangrando

Mas queriam poemas de borboletas 

Simétricos, leves e aparentemente inofensivos 

Sair jogando as palavras nas borboletas 

Só para mostrar que a vida não é perfeita.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

 Sobre nós, somos dois e o meu amor é meu. Ele cabe a mim e aos meus mistérios. Meu  amor não tem regras, bússolas e caixas. Ele não se encaixa entre o certo e o errado, nem pleno, nem plano,  tem mais caracóis que meus cabelos. Meu amor está acordado, sabe dos muros e dos limites, dos brilhos e lágrimas, mas grita, escuto seu barulho. 


O caminho é torto. A vida não é linha reta. Estou preso e solto na estrada e o amor se instalou.


Mesmo não estando sobre o tear das nossas peles, o amor está aqui. Mesmo panfletando a despedida, ele não se despede.


Alexandre Lucas