domingo, 20 de janeiro de 2013


Não tomei nenhuma dose, mas o mundo ou minha cabeça rodopia
A barriga canta como um ronco recebendo pauladas
os olhos se fecham de cansados
e se abrem constantemente de impaciência
Dormir e acordar abraçado comigo mesmo
para esfolar os dias de maremotos
e os sonhos afogados.

Alexandre Lucas

E o sangue se espalhou pela parede
Escreveu as dores da noite e as caminhadas do dia
E as palavras se entrelaçaram com os riscos
E os tambores anunciaram o fim
Do corpo tombado em procissão

Alexandre Lucas

Governo a noite
num espaço vazio
o silêncio conversa
freneticamente comigo...

Alexandre Lucas

Tomentos
Momentos
E a vida sagrando ...
E o palhaço continua com o nariz vermelho
E o rosto esticadamente mascarado de sorriso

Alexandre Lucas

O jarrinho com flores fica no chão
Hora e outra olho para ele
Fico aguando com as águas
Salgadas de mim...
Um dia o pezinho vai morrer
Talvez fique o cheiro de jasmim...

Alexandre Lucas

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013


Procurando me deslocar da realidade
Tento fechar os olhos
E descansar a alma
Tento impossivelmente relaxar
E contar os carneirinhos, ou até mesmo os postes
Que me perseguem no percurso de casa
Em vão tentativa fecho os olhos
E tenho pesadelos
Os monstros reais reaparecem    
Mais sanguinários e insolentes
Acordo,  falta água para mergulhar a cabeça que ferve
Vou ao banco frio e sombrio, apesar das luzes que encobrem a falsidade da vida.
Tomo café para agitar o dia que parece querer chorar. 
Enquanto isso salgo minha face com as águas de minha alma
O Tic-tac da realidade estronda nos meus tímpanos
A faca pousa do lado
E aproveito para descascar os abacaxis desta plantação.

Alexandre Lucas  

A minha proposição foi me fazer feliz
Refazer-me a cada instante
Labutar e lapidar a vida
Ir à luta
E ter a companhia
Dos teus carinhos
e a certeza do teu ombro
que a cada dia se molde no corpo um tijolo
de suspiro e sussurro
de alegrias e de ínfimas chateações  
e que assim possamos
colocar cada tijolo multicor
um em cima do outro, com boa argamassa 
para que possamos construir um castelo de sonhos coloridos
sem prazo para conclusão,
Que ele, o nosso castelinho, tenha um termino infindável.

Alexandre Lucas  

Vi  no livro fotos vivas de homens mortos
Li histórias sobre choques e tiros
Isso tudo foi verdade
 Não a verdade de Goebbels
Temo a vida
Por carregar um rosário de sonhos.  

Alexandre Lucas

O poeta joga  a parede de concreto
Cacos, traços e poeira se espalham
E a alfaia anuncia a morte adulterada da verdade
E a poesia  se refaz assanhada e doce
Inquieta e guardiã
Nas brechas  do asfalto do coração
Brota cheiro, flor e canção
Cumplicidade, lealdade e liberdade
E um jarrinho de saudade
Esperando o calor do teu compasso
E a água do teu abraço. 

Alexandre Lucas  

Sou assim uma variante militante
Que busca o aconchego dentro da selva
Que arrebenta a selva para acomodar sonhos
Compreendo que meu trabalho estético artístico é indivisível à vida, por conseguinte à compreensão política
Notadamente ligada a minha camada:  popular, oprimida e explorada.  
Sou ambulância de provação, provocação  e polêmica
Convictamente sou docemente frágil
E  pássaro que  voa e diz que vai voar  
Liberto
Não tenho patentes de propriedade e
nenhuma  inscrição marcada a fogo no meu corpo  
Sou fiel as minhas crenças, crenças humanas  
Sinto frio, calor e tesão
Bato, corro e digo palavrão
Estudo,  pesquiso e experimento
Refaço, transformo e discuto
Não me faço de cego, nem de mudo
Recolho encontros e transtornos
Para sacolejar fitas de cetim e granadas
No meio do salão dos esconderijos da alma

Alexandre Lucas 
  
Hoje é de lua cheia,
Nos quintais e nas salas de  desejo
Avoante, radiante, peregrino militante
Vai entoando as cordas da rabeca
Rodopiando o feitiço
 pirofagiando o corpo
para os  holofotes do luar.

Alexandre Lucas 

Aprendi na luta do meu povo a  reinventar a canção
A tocar a música que não toca na TV,
A retirar a maquiagem que não te faz ver
A desenhar rupturas e estradas de utopia
A edificar a esperança
E ver o sonho partilhado
Como a terra, o pão e a vida.

Alexandre Lucas 

O vento me sacode com pontapés,
Saio rebolando
Fingindo ser dançarino
O corpo da alma chega em casa arrebentado
Sem nem saber se casa tem
Encosto em qualquer canto
Para fazer do  sertão mar 
Adoço meu café com sal
E broto com o um sorriso
Docinho
Para tenta aliviar  o gosto
Amargo do cafés da vida.

Alexandre Lucas  

Esquartejei o tédio da prisão
alvejando o encardido do tempo
vi a cor das correntes
e pude conhecer as histórias
trancafiadas nos cofres do império
quase me embriaguei, com as doses falsificadas de imagens
descortinei a paisagem
e fiz outro retrato
preparei o feijão, o livro e o canhão
e em coro
machamos alegres de rebeldia
escrevendo na ponta da faca a nossa poesia.  

Alexandre Lucas  

Quando a saudade bate
E o desejo sacode a alma
Emendo a distância com a presença da lembrança
E monto no lombo das palavras
Para chegar de longe
Como sino de capela
Subtraio os dedos para encurtar os dias
Para nos fazemos jardim poesia.

Alexandre Lucas

Filho, 
O tempo é esse 
Pois é o nosso tempo 
As crianças ainda choram 
Não pela ausência dos brinquedos 
Mas pela falta de poder rir com a barriga cheia
E os adultos ainda se encolhem
Para chorar por trás das portas.
Pai Noel é uma mentira para iludir as crianças no natal 
Mas esse é também o tempo das ilusões 
e apesar de tudo é o tempo dos sonhos 
e das revoluções. 

Alexandre Lucas

Eu que queria apenas conversar 
Embriaguei-me com a ausência de palavras 
Toquei fogo no vocabulário
E joguei-me na fogueira 

Alexandre Lucas

A poesia burguesa se deleita no banquete gueto
dos artistas 
no nicho fechado 
do anel auto-suficiente das estrelas 
com discurso de rebeldia 
anti-revolucionária. 

Alexandre Lucas

Na intimidade das minhas complexidades 
A saudade me contrai 
A tua lembrança firme e grudenta
Deleita minha paisagem 
O sorriso vem leve e abanado 
Como bandeira vermelha
Que anuncia a nossa luta 
E o desejo de revolução.

Alexandre Lucas 

No vazio do quarto escuto os gritos 
Do silêncio, 
As roupas se embolam como meus cabelos 
o espelho denuncia meu cansaço 
lavo a cara para maquiar os olhos fundos 
sento na privada para meditar sobre o dia 
arranjo foices e martelos para refazer os caminhos e gestar a poesia.

Alexandre Lucas

Chego em casa com a mãos calejadas de lágrimas
Abro a geladeira e ela de tão vazia me abraça 
Geladamente
Paro e olho cada parede que a mim não pertence 
Acendo o fogo para preparar o café 
Amargo e com gosto de pó
Fico dedilhando o juízo 
E observando o escorpião que tenta se proteger no banheiro 
E entre as palavras e os soluços
Que somente eu e o silêncio podemos escutar 
Preparo na calada da noite o suspiro de amanhã. 

Alexandre Lucas