quarta-feira, 13 de maio de 2020


A cortina de fitas coloridas dançava com o vento
A luz do sol começava a entrar
Escondia o frio com o teu corpo
A manhã se fazia uma grandeza
Teus olhos verde-azul faziam conexão
Com a sacanagem e a cumplicidade
Adentramos com delicadeza e vontade
Liquidados
Tomamos banho
Providenciamos uma garrafa com café
Sentamos na cadeira
E fiamos com ternura
Um caminho sem chaves e grampos.

Alexandre Lucas     

domingo, 10 de maio de 2020



Sou de muitos amores
Amo intensamente, por instantes e por um longo tempo
Tenho dias lua e de chuva, não escolho
O amor é sempre verbo    
E os caminhos são imprecisos
O amor não se guarda na caixa, muitos menos na cerca
Ele escapole
Já estou na esquina sem bolsa e sem venda
Vai que o amor passa na encruzilhada
E o céu abre, gente se encama
Embaralhar-se e depois cansa
Volto a seguir o toque e a poesia
Do próximo, instantâneo e efêmero amor.

Alexandre Lucas    

sábado, 9 de maio de 2020


Após um dia pintando, subindo, descendo, agachando
Sentindo o  cheiro e as cores da tinta
 Observando cada detalhe
A serenidade e a harmonia dos espaços e das formas  
O quarto já está pronto, lavado e com cheiro de rosas
É hora de refrescar, eu e você e nossas vontades
Um banho meio quente e meio gelado
Nós, nos deslizando de afetos
Na cama, a cânfora e a arnica nos espera  
Em camadas leves vamos aquecendo
Ardidos de prazer
Vamos nos provando,
Por dentro, por fora  e pelos avessos
Na ousadia da carne,  o amor é uma guerra
 Em que queremos morrer.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Desde criança gosto de caixas de madeiras, baús
Quando criança escutava a palavra troço
Troço ruim
Se aquieta troço ruim, tão trivial como arroz ao meio dia
Convivi com troços de troçada uma vida inteira
Talvez esse troço da palavra e o troço da troçada
Fizeram-me gostar dos baús  
Em casa tenho baús que viram cama e mesa
Caixas de madeira de vários tamanhos
Guardo muitas troçadas
Os baús me ajudam a escondem tantos troços
Que nem sei os troços que tenho.

Alexandre Lucas 

quinta-feira, 7 de maio de 2020


A cama continua cheia, alguns livros que me levam a lugares que nunca fui  
O celular repleto de fotos e de estradas
A preguiça espalhada  
Mas a vontade era deixar a cama semivazia
Ocupada, apenas pela cumplicidade dos nossos corpos
Poderíamos viajar, conhecer cada ponto de felicidade
Conquistar em intervalos tremulações     
Teu corpo suado poderia fazer o distanciamento do tédio
A reciprocidade da pele e a temperatura quente
A cama cheia de nós,  enclausurados de gratidão
Nos beberíamos pelo meio, até desfalecer de amor.

Alexandre Lucas      

segunda-feira, 4 de maio de 2020


O espelho quebrado mostra rugas que não tenho
Faço cara de tristeza, medo e alegria e o espelho me acompanha
Tem dias que nem olho para ele, porque a paciência e o tempo  se encurtam
Se o meu espelho falasse
Contariam segredos imundos, dores imensas e quebraria com algumas felicidades
Tem horas que desejo  colocar a cadeira em frente ao espelho
Deixar um copo com agua do lado e ficar  conversando comigo
Tenho saudade de mim, apesar de me conhecer muito pouco    
Ligo a televisão, mexo no celular e sempre me vejo no espelho
Fazendo interrogatórios, e ele, o espelho, sempre  calado.

Alexandre Lucas    

domingo, 3 de maio de 2020

Era uma mesa antiga, continuava firme, madeira de lei
Fazia-se de tudo naquela mesa
Escrevia-se o poema, tomava vinho, reunia pessoas para o café
Resolvia-se as contas do mês
A mesa aguentava a tempestade e os corações de pedra
O tempo furioso e amargo
Mas aquela mesa também era sustentáculo do amor
Nos cabia deitado e sentado
Com o fogo e a ternura das nossas pernas
Com verso ardente dos olhos
 Com a língua sambando na pontualidade dos teus sussurros  
A mesa era forte e aguentava o beijo doce e os trovões que nos residiam.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 1 de maio de 2020


Um dia atípico, saia e batom vermelho
Você estava no jardim e fazia florir desejos
Sentia a brisa e queria que ela nos levasse para outro caminho
Onde o orvalho escorresse sobre os nossos corpos
E que pudesse colher dos teus grandes lábios uma música gemida
Espalhar a primavera sobre teus sentidos
Sentir brotar teu gozo
Mas não foi naquele jardim
Haverá outros jardins,  saias e batons vermelhos.

Alexandre Lucas 

Na porta de entrada tem grades
E eu me iludindo que a casa é sossego
É jaula de ilusões, onde o sol e a liberdade não entram por inteiro
Faz silêncio, desliguei o celular, fui ver as flores,
Sentir o calor no quintal, as flores não alimentam os meus sonhos
A sobrevivência pede socorro, olho para o céu e ele faz silêncio  
Grito para não me sentir só e escuto gritos vizinhos.

Alexandre Lucas