quinta-feira, 31 de maio de 2018

Escuto um blues
Para desatender a tempestade
Da  boca molhada dos céus
Estamos distantes
Mas os trovões se fazem tão perto.

Alexandre Lucas 

quarta-feira, 23 de maio de 2018


Sozinho  no parto
Carregos nos braços o choro
O verso nasce do pranto
Das pernas abertas
Expulso a dor para nascer o poema.

Alexandre Lucas  

terça-feira, 22 de maio de 2018


Quando todas as vozes se calam e insistem  em anular o dialogo
Grito com as palavras,
Desocupo o entulho que me engasga
Retiro cada monstro que se instalou ao longo dos tempos
Gritar com as palavras é fácil e necessário.
Difícil mesmo é enrocasse num dialogo de suspiros, desses que nos fazem gozar.  


Alexandre Lucas
  


Despeço-me no meu silêncio manifesto

O corpo gélido já não abre alas e nem ruas

Não fecha e nem abre portas

O corpo tombou  na vida

Ela ( a vida)  que era tão besta

Resolveu acabar com a besteira

E o verso da carne se fez vida

Que não se refaz.

 

Alexandre Lucas   



Quero plantar flores, nunca plantei nenhuma
Até  tentei,  parece que não é fácil plantar flores
Quando se plantar flores, elas ficam ali paradas e depois morrem.
Nasceram novas flores e novamente novos cuidados
Mas fiquei pensando elas ficam paradas
Como seria se as flores me plantassem?

Alexandre Lucas      


Trabalho na escassez das minhas forças
Carrego caixas pesadas de informações
Trabalho com o coração, o meu
Ele não me parece de pedra ou de  aço
Acho que ele é de teia de aranha e não suporta muito peso
Ele pode disparar, acalmar ou ainda parar

Alexandre Lucas

segunda-feira, 21 de maio de 2018


Enquanto dormia
Falei com  deuses e diabos
Com orixás, duendes e ETs  
Com monstros e árvores
Pulei do precipício
Toquei fogo na casa
Fui a lua, cheguei perto do sol
Dei a volta ao mundo
Ainda continuo aqui
Enquanto você dorme.

Alexandre Lucas   

domingo, 20 de maio de 2018


Tiro a roupa
Para escrever cartas de amor
A cada linha descrevo o vestido que encobre  verdades não ditas.

Alexandre Lucas  

sábado, 19 de maio de 2018


Sempre me lembro do homem da esquina
Olhava sempre para baixo
Como se estivesse buscando a vida no chão
Os dias se passavam
O  homem só tinha a esquina que nem era sua
Um dia a esquina estava cheia,
E o homem já morto foi notado.

Alexandre Lucas   

Escrevo um poema de imagens
Nele vejo a boca  com os lábios enviesados
A ponta dos seios em forma de seta  
As pernas despidas
E uma carta para abraçar a alma
De fogo e afeto
No poema cabe tudo,
O desejo, a esperança, o objeto, o dejeto
O verso, a alma e o incerto
O poema atreve a mente   
Sem pontos, pontilha o infinito
Em canto e grito.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 18 de maio de 2018


Talvez eu tenha partido
Esperei o bom dia, boa tarde, boa noite
e até  a boa madrugada
 a roupa ficou empoeirada de tanto esperar
os rios secaram, as rosas murcharam   
e o fruto verde, numa amadureceu .

Alexandre Lucas


Escrevo  quando a alma chora e  quando ela rir
Escrevo quando o  acoite sangra
E quando o corpo treme  de prazer  
Escrevo na pele linhas gozadas
e versos  no ventre da   vida
sempre que necessito respirar, escrevo   
mas antes que tudo
Escrevo por que existo.

Alexandre Lucas    

sábado, 12 de maio de 2018


Primeiro privatizaram a buceta
Pensando  na propriedade da terra
Entre arames e símbolos cercaram a liberdade
Depois coisificaram o que não era coisa
Alargaram quadrados e diminuíram outros
Entre cacetes e bucetas,
Uma balança de uma justiça cega e assimétrica não dorme.

Alexandre Lucas  


O poema está engasgado
De dor e desejo
Como posso pelo poema
Grito e silêncio,
E ainda reinvento de acordo com o tempo

Alexandre Lucas

segunda-feira, 7 de maio de 2018


Talvez seja tarde
E o amor tenha sido uma  tigela de gelo
O corpo esteja estirado no canto frio do quarto solitário
Restam poemas escritos com o pulso sangrando
É tarde
E o galo já não canta.

Alexandre Lucas    

domingo, 6 de maio de 2018


Minhas palavras não serão polidas
Não escrevo joias
Elas poderão ser enormes e as chamarei de palavrão
É assim que devemos chamar as palavras grandes
Como paralelepípedo
Não serão feias ou bonitas, serão palavras
Onde está o  cu e o culto está os humanos
E só por isso existe a palavra.

Alexandre Lucas  


Vejo nas mãos dos meus pensamentos
Nossos corpos salientes de verso profano
Mordo o vento, apalpo as nádegas da espera
Retiro com a boca a calcinha verde
Ainda resta esperança
Chega com desejo e carne
Para que o poema nasça  composto
De gemido e gozo.

Alexandre Lucas  

sábado, 5 de maio de 2018


O amor  não tem  porta, muito menos chave
Não tem parede, nem teto
As vezes dorme no relento
Outras nos braços
Tem horas que dorme  nuzinho
Mas tem horas que fica vestido para o pólo norte
O amor é uma invenção complexa
Que nunca chega a ser completa
É uma certeza incerta
O amor é um texto escrito com várias mãos
Ele é tanta coisa
O amor é como a esperança
Dificilmente falta.  

Alexandre Lucas