quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Tenho um relacionamento sério
Ele já vem durando alguns anos
Inclusive, ele me tirou muitas lágrimas
E meu deu muitos sorrisos
Nem sabia o que seria mesmo
Quando tudo começou
Mas uma coisa eu estava convencido:
É isso que eu quero
Hora e outra, nós brigamos
E brigamos feio
Mas nos amamos em um só corpo
Nunca me arrependi
E tenho orgulho
De ser fiel a ele
Já fizemos alguns filhos, filhas
Fizemos gente
Ainda vamos fazer mais
De Dia
À noite
No silêncio da madrugada...
E haja disposição....
Mas estou convicto
Enquanto houver gritos
Gemidos
Sussurros
Pedindo
U-t-o-p-i-a-s
Pelo direito de sorrir, compartilhar, dividir
Estarei do teu lado
Junto com outros amantes
Junto com outras amantes
Que também decidiram,
como eu
Terem um relacionamento sério
com a luta incansável
dos despossuídos
que carregam suas metralhadoras
de flores e sonhos diuturnamente.


++++++++++++++++
Sereninha
É a minha lua
Um intervalo de prosa
E uns foguetes de riso
Um estandarte de paz
E uns brilhos nos olhos
Um jeito manso de se achegar
E uns estalos de carinho para se instalar
Sereninha uma vez passou e como a lua não pode se esconder
Fez- se rede e me fez balança...e cantou uma música de uma floresta encantada
Em que a utopia brotava

++++++++++++++

Empunhava um batom vermelho
Como arma de guerra e prazer
Que dançava sobre todo o corpo
Sinalizando estradas sinuosas e vermelhas
Uma espécie de ninhos de pássaros
Num rito afro-indígena
Nos alpes da contemporaneidade
Corpo, movimento, registro
Distância que se desfaz
Na arte
Em tempos globais
Tu aqui bem pertinho
Em In-corpor-ação
E nós em extremos lugares
Brasil que se refaz
Gente que goza,
Que pinta
Que se joga
Que se molha
Rola
Performa
Conteúdo e forma
Arte sem limites
Corpo como doce dinamite.

++++++++++++++

Teve um tempo em que a pressão baixava
Era uma comida amarela e sem gosto algum
Travesseiros de solidão
E umas paredes brancas
A casa preenchida do meu vazio
Hoje, estou assim
Pressão baixa
Amarelo como sempre
Com a presença do mesmo travesseiro
E a casa manchada de mim e de branco
Assim meio tonto,
mãos suadas
A noite que não tem cheiro de Jasmim
um pássaro sobrevoa meu apartamento
O arco perdeu o C
Resto só rato
E eu aqui observando tudo
Explosivamente calado.

++++++++++++++

O dia anoitece
A chuva no meio do caminho
Nossas almas lavadas
Nossas bocas grudadas
Nossos suspiros musicados
A chuva paira,
Acordo e você jaz
Do meio do caminho
O sol acordou apaixonado
Quentinho
E eu fui seguindo
Com o sonho da madrugada
Terra molhada
E os céus endiabrados
E com cheirinho de jasmim.

++++++++++++++

Tem horas que a ordem é cantar a luta
Uma voz ampliando a outra,
É preciso se armar,
O soldado da luta
Carrega balas de consciência
E avançar mesmo quando os rifles invisíveis do poder
estão apontados para seus ralos bolsos
Não abram alas
façam trincheiras
Puxe a peixeira e degole os tubarões
Eles estão famintos
Escolha
Comer ou morrer

++++++++++++++

Sou comunista por necessidade
Lembro do tempo em que o imbecil burguês
Exclui-me de ter uma escrivaninha
Para escrever meus sonhos
E mesmo assim ousei
Não deixei que roubassem meus sonhos
E pusessem muralhas nos meus caminhos de fogo
Atrevido escarro na cara de porcelana da burguesia
E incendiou os pseudo-esquerdas,
os meros oportunistas, travestidos de socialistas.

++++++++++++++

Radiante pulou nas penas das nuvens
Brincou com a estrela candente
E fez o seu pedido
Segurando um rosário de palavras
Um jarro de cristalino de carinho
E uma de chave cumplicidades
E a noite se fez humana
Numa nascente de saudade
E os olhos se fizeram jardins
Guardo o retrato do toque
Na sala do Passarim
e o dia se espreguiça
pedindo mais um taquim.

++++++++++++++

João que não era papa
Nem tinha papa na língua
Que fazia oração e tinha crucifixo na mão
Certo dia empunhou a bandeira, vestiu a camisa saiu em procissão
Fez prova, discurso e escreveu a sua indignação
Fez-se firme e se fez cristão,
Nenhuma oração em vão
Tudo materializado na sua ação
Que soube como poucos dizer: Não
Esse é o João
Um soldado da Educação
Que bombardeia a enganação
Camarada...que serve para revolução

++++++++++++++

O pátio da alma
Ficou recheado de crianças
E o poema nasceu
Inocente e brincalhão
Deu cambalhotas no medo
Brincou no bosque
E meteu o dedo no bolo
O pátio da alma ficou em festa
e no meio tinha um rio
olhamos os peixinhos
e saímos em procissão
molhados de prazer
entoando a canção
chamada
eutucomunhao...

++++++++++++++

Meus irmãos não têm meu sangue
Mais acordo com eles pelas manhãs
Sigo ancorado nos seus sonhos
Também meus sonhos
Nem sempre estamos juntos
Mas abraçamos a mesma bandeira
Como lençol que nos acolhe
Meus irmãos são sangue
Em turbulência....
No vapor das chamas
Vamos disseminando
Rastros de luta e amor

++++++++++++++


Meu sonho hoje é compra uma bicicleta
Pedalar para esquecer os problemas
Desbravar as vielas incompreendidas do caminho
Chegar ao trabalho de bicicleta para ser notado
Furar o pneu no meio da estrada para reaprender a andar
Quero aquela bicicleta cinza, de designer moderninho
Acorda às 5 horas da manhã, quando o sol ainda se esconde
Sentir o friozinho da chapada refrescado com canto dos passarinhos
Suar para aliviar as tensões
Chegar em casa anotar
os burburinhos
trazidos pelo pedalar do olhar.

++++++++++++++

Meu coração rebelde
E minha fúria de ternura
Brindam-se em cada esquina
Enquanto preparo o molotov
E a noite se aquece...
De trincheiras e vigílias
E a lembrança do homem com o outro homem
Ombro a ombro, camaradas
E seus rostos lacrimejando sangue
E suas vozes amplificadas por outras vozes se abraçaram
e seus rostos tingidos de sangue
Fizeram-se meus, teus, nossos
e os dois homens já não estavam mais sozinhos
Um exército de famintos por justiça foi parido
E o grito de nascido pode ser escutado da terra do Dragão do Mar
Aos Alpes da rebeldia latino-americana...
Aonde tem um povo que a cada dia nos ensina um jeito novo de lutar e amar.

++++++++++++++

Juntei cada versinho
De lá pra cá
De
Cá pra lá...
O teu canto de sereia menina
Teus olhinhos de encantar...
Mulher que vem como trovão....
E sai como luar
Yemanjá te espero fora do mar
Pois as águas turbulentas não me deixam nadar
Vem logo....
Pra na terra nós bolamos ....
E nos sonhos nos amamos.

++++++++++++++

Escorri entre tuas pernas
O tédio do dia
Joguei-me como saco de esterco
Sobre ti,
o suor me lambuzava de perguntas
e de desonra
como animal, sedento te possuir,
pude sentir teus suspiros
e gemidos sufocados
minha alma emporcalhada
meu prazer contido
e a libido congelada.
Vestir a roupa
Como se colocasse curativo
Para esconder a ferida
Dos nossos corpos em atrito
O prazer que tu me destes
Era pouco e desfizestes

++++++++++++++

Era tarde, ou a hora exata
Nenhuma data confirmada
Nenhuma carta marcada
Apenas um discurso de aço
Que há tempos perdeu
O gostinho do mel
E embriagou-se com o bagaço
Mas o bagaço
É braço que clama braço
Pra sentir o embaraço
Quentinho do abraço
E ai
Tudo se pintou na tarde
Na hora desmarcada
Na arte desconceituada
E na tela da alma
Pintei com a bebida mais forte
O retrato desestático
E um lenço embebecido
De rosas vermelhas
E o charme do palhaço
Par sentir o momento da bendita invasora,
Uma bruxinha contemporânea de: biquinho e olhos arregalados.

++++++++++++++

E se eu me apaixonar
Terei os caminhos cobertos
Por navalhas meladas de doce
E como servo da paixão
Gritarei canções entorpecidas
Pularei mil vezes do precipício
Meu vôo será vendado
E minhaa liberdade homeopática
Soltarei riso fácil
E afogarei minha alma
E se eu me apaixonar
Ah, ai me ensino a nadar

++++++++++++++

É preciso desabalar
Desabafar
Descaminhar
Desvendar
Desfechar
...é preciso saber preparar o molotov e usar-lo na hora inesperada
É preciso cheirar a ultima rosa vermelha entre as pedras do precipício
É preciso parar e ser o mateus da nossa dança
É preciso dizer eu te amo aquela criança que sempre esperou um abraço
É preciso atirar a primeira rocha e abrir o caminho.

++++++++++++++

Carrego no peito uma espingarda de sonhos
Saio atirando montado em cima de pião
Veia, sangue...circulação
Grito, canto, danço
Ora canso, ora avanço
Nado em águas de fogo
Para não perder a essência do jogo.

++++++++++++++

Meia noite,
Alma violada
21 anos, mãe, pobre, uma borboleta tatuada na barriga,
Um zíper quebrado juntos com os dentes,
Pela suja, suada, fedida,
Olhos pedidos,
Cabeça buscando pedra
O corpo como frigorífico de miúdos
Liquidação cotidiana: Um real e trinta (R$ 1,30)
E suas ultimas palavras:
“Vai fazer o programa ou não?”

++++++++++++++

Queira-me casado comigo
Queira-se sua e não minha
Jogue a infinita pedra
Vamos jogue os teus devaneios,
O peso hipócrita da tua opressão
Estou aqui, aqui pertinho, não sou presa,
Sou estopim,
caio no mato, fujo do cercado
Vida me disse: Tu és coletivo demais...
- Mas Vida: Amais.

++++++++++++++

A cada camarada, um laço sem embaraço
Um laço para ser tocado, laço leve, laço breve
Laço de fidelidade,
uma construção
A noite vem abraçando o dia
Ou o dia vem acariciando a noite
Dias e noites
Noites e dias
A noite se confunde com os céus
Nossos corpos espalhados em desejos estrelados
Brilhos, cores, repouso
O dia vem molhado com gosto de lençol e corpo embaralhado
Ou vem quentinho, com brilho de sol
Dias e noites, noites e dias
Fios, rodopios, pios
Pios..pios...pios...

++++++++++++++

no vale das lembranças
tento ajuntar cada pétala
recompor uma flor
compor uma canção
dos momentos que não tivemos
do encontro não composto
do teu lábio rutilante
refletor instigante
acenando felicidade
guardo uma foto, estática
como toda foto, um sinal de paralisia
entretanto,
os teclados,
as confidencias
o desejo comportado
a jarra jorrando palavras
a foto vira poesia
ainda é cedo
mas acredito em rosas bélicas
e anjas compostas de sandálias rasteiras
e vozes suaves
cantando
como a dança serena das águas.

++++++++++++++

Posso te oferecer a tarde inteira
uma noite
A palavra verdadeira
Ser intenso,
Sentir contigo o cheirinho de incenso
Escutar teus lamentos
Fazer-te um delicioso momento
Brincar de Bicheirinha
Chama-te de princesinha
Ler Pablo Neruda
Por esse instante acreditar na arruda
Se possível aceite essa flor seca
Guarde-a no livro mais lido
E umedeça com a água da tua ternura
Assim posso ser tua por um instante
Mas sempre com esse desejo constante
Da tarde, da noite e da hora do orvalho
Despeço-me e por favor peço
Não me queira como objeto.

++++++++++++++

Antes de tudo existe um entretanto
Um rio de costas largas
E uma ponte quebrada
Um aceno, diz adeus
Saudade
Ou ainda liberdade
Estou na margem da ponte
Quebrada
Da ponte pesada
Mas estou inteiro
Provando sonho verdadeiro
A ponte continuará quebrada
Os caminhos faço pelos céus
Pago pelo meu mel e fel
Mas não passo para o outro lado
Deixe-me aqui
Sem ser violado.

++++++++++++++

Carrego tua boca vermelha
Tatuando meu corpo
Como se quisesse demarcar sua passagem
Puta, doce e rebelde
Teus gritos enfurecidos de prazer
Ordenando para não interromper
E bailamos a noite inteira
nus
O quarto escuro
Nossos corpos quentes
Nossa luz
E cedinho nos vestimos
Abraçados assistimos
O sol sorrindo
Os fogos na praça
O som das machinhas
o carnaval da saudade
e a vontade
de te rever
como uma flor
Puta, doce e rebelde

++++++++++++++

Da varanda fotografo
A textura do barro que se fez homem
O rio que preso se revolta
As caras abismadas
As casas arrobadas
A lama maquiando o asfalto
O rodo espalhando a mágoa
E escondendo as lágrimas
Os pombos pousam no arco em paz
Os pés humanos se pintam de terra e água
Um mangue urbano vai se formando
Uma cratera vai se aflorando
A água vai afogando
As árvores vão se empilhando
Como lastimas de guerra
E o povo vai se ajuntando
Vai se espremendo
Uns assistem a novela do Rio
Outros tateiam a vida
Comungam com as suas mãos
A feitura de uma corrente
Composta de resistência
Entre os caranguejos
Transitamos no lamaçal
Nutrindo o sopro de ser humano castiçal.

++++++++++++++

Embrulho-me nos teus olhos
Rutilante como as estrelas
Foice de desejo
Martelo de firmamento
Tuas mãos leves
Como vento me dá brisa
Brasa e faísca,
Os teus encantos
Tá aqui no nosso mar
No balanço tímido das águas
Que como rede nos faz sonhar.

++++++++++++++

Era nós
Seis mãos
Um taquinho de indecisão
Um taquinho de tesão
Bocas e olhos cobrindo
Nossos desejos descobertos
As palavras adormecidas
Os dedos “silhuetando” os contornos da imaginação
O quarto meia-luz
A alma contorcida
Que pouco reluz
Os números desapontam
A matemática
Quando compomos
Com corpos e sentimentos
Suados de prazer.

++++++++++++++

Escorri entre tuas pernas
O tédio do dia
Joguei-me como saco de esterco
Sobre ti,
o suor me lambuzava de perguntas
e de desonra
como animal, sedento te possuir,
pude sentir teus suspiros
e gemidos sufocados
minha alma emporcalhada
meu prazer contido
e a libido congelada.
Vestir a roupa
Como se colocasse curativo
Para esconder a ferida
Dos nossos corpos em atrito
O prazer que tu me destes
Era pouco e desfizestes

++++++++++++++

Levo comigo o gosto tímido dos teus lábios
O doce da tua lembrança e a mordida suave
Que vem como sopro no pé do ouvido
A canção do silêncio e o impulso dito “não passa de hoje”
E tua face vindo ao encontro do medo
A tua pressa, a minha prece
E o nosso segredinho guardado
Nas nossas malas de saudade

++++++++++++++

Moça bordada
Com fios de carinho
Ponto a ponto ordenando o risco
Agulhas de vento
Postam teu sorriso presente
Mulher tecida com feitiço de menina
Saia rodada
Cara prá o ar
Voz de caboclinha do mato
Nas selvas urbanas do Crato
Sopra sua voz mansa
Como quem faz brotar uma planta
Menina de ternura dada
Menina bordada

++++++++++++++

Neste deserto
Sem tuas caricias
É como bolacha seca sem água
Que desce rasgando a garganta
Para ludibriar a fome
Pesadelo que me consome
No Instinto e instante
Cavalguei como um animal
Esmagando os discursos
Vestindo a roupa, como um estúpido


++++++++++++++

No afago das plumas
Você deita nua
Nas lembranças verdes
Sobre pétalas vermelhas
Você desliza nas teclas
Da minha ânsia
Pousa na minha frente
No curto-circuito
Desaparecem as palavras
Mas continua aqui
Molhando meus lábios
De desejos
E me erigindo de prazer.

++++++++++++++

Os pombos sujam o arco
Criam uma poética
E solidificam suas fezes
E o vento compõe doenças
Fico aqui intrigado com a beleza dos pombos
E seus passos de paciência
Bendita ciência
Que desvenda
A merda
Das aves símbolo da paz.

++++++++++++++

Quero a companhia dos teus lábios
A doçura das tuas palavras
A firmeza das tuas mãos
A convicção dos teus prazeres
A certeza do teu não
O canto da revolução
O corpo
A alma
O campo minado
Com bombas de ternura
Metralhadoras de rosas vermelhas
E o vôo libertário
Entoando os nossos laços.

++++++++++++++

Quero navegar dentro do teu corpo para transpirar teu sorriso
cheirar tua flor
acariciar o teu afeto
juntar cada aspecto
viajar entre os mares dos teus prazeres
e me aforgar neste furação
que gravitar no teu centro
que te contorce em todos os pontos
de A a Z
que paira no G
gemer com olhos de carrosel
ir aos céus
acordar nos teus bracinhos condensados de carinho e mel.

++++++++++++++

O dia anoitece
A chuva no meio do caminho
Nossas almas lavadas
Nossas bocas grudadas
Nossos suspiros musicados
A chuva paira,
Acordo e você jaz
Do meio do caminho
O sol acordou apaixonado
Quentinho
E eu fui seguindo
Com o sonho da madrugada
Terra molhada
E os céus endiabrados
E com cheirinho de jasmim.

++++++++++++++

Cansei das tuas listas de pudores
Aqui não pode
Aqui não deve
Aqui não
Ali também não
Minhas mãos atadas,
Meus desejos enjaulados
E seus receios em pleno vapor

++++++++++++++

Aprendi com o silêncio da noite
O barulho da alma
A casa vazia
O sentido da poesia
A palavra sincera ardendo
Entre as paredes brancas
Manchadas de incertezas...
Rachadas pelas Indelicadezas...
E o esparadrapo branco
Mascarando falsas belezas...
A palavra sincera faz sangrar....
A doer de um parto necessário

++++++++++++++

Um monte ponteiro
Chico,
Um monte de riso
Velho que guardava a sabedoria
de tempos de dores,
nada de dita realmente dura
atrevido poeta
de poesia curta
Guardo
“sobrevivências”
De quando te conheci
Camarada,
Hoje novamente queria dizer obrigado
pela ligação
que fez naquele dia
que quase perdia meu filho
essa é a lembrança que tenho
desse velho de sorriso escancarado
que não esperou a morte chegar
e seguiu como o velho Chico
a sua passeata.

++++++++++++++

Teu gosto de maça
Sentir-lo com sussurro avermelhado
Cantarolando no meu ouvido
Tuas mãos dançando como uma escultora
Tua fala mansa erguendo o brilho da minha alma
A imagem, o cheiro, a atitude
A mulher, a operária
E os devaneios da comunhão
Argamassa, tempero, construção
Os olhinhos em procissão de prazer
Benzendo minha carne
E meu amanhecer.

++++++++++++++

Queria ter sentindo o teu gosto
No morro onde estava fincada uma cruz metálica
Vendo a cidade e sobrevoando sobre teu corpo
Sentido a liberdade bater na cara como brisa
Hoje tenho as suas histórias contadas
Sem os seus mamulengos.

++++++++++++++

Que a morte venha na velocidade da luz...
Sem a lentidão dos martírios
Sem o choro do arrependimento
Sem a culpa latente
Que a morte seja o poema
Maior da vida

++++++++++++++

Quando eu morrer
Quero batuque
Os tambores do meu povo
Sempre rutilaram minha alma
Quero a poesia tua e minha
Comungando entre as conversas e os vinhos
Expulsando os bichos da alma
Os bichos bons e os mal
Quero as crianças pintando
O caixão com as cores do reisado
Fazendo a festa (gosto muito das crianças)
Quero um cortejo com dança e estandarte
E sorrisos estampados
Rostos pintados como se fossem para o toré ou
Para derrotar um presidente na rua
Quero meus textos internalizados
Nas ações e canções de libertação
Em vez das orações e ladainhas
Que não me servirão
Aproveitem para forma um batalhão de soldados da alegria
E de guerreiros da liberdade
Como sei do tempero que serei
La pelas terras em que me jogarem
Plante flores e rosas de cores de vivas
E uma árvore que pode ser de maçã
Pela manhã vocês poderão estudar
E a noite dialogar com a lua
Para degustar a descoberta da mulher
Que descobriu o amar.

++++++++++++++

Germinei a poesia
Com a corda rosando o pescoço
A ponta da faca apontando para o olho
E o coturno pressionado o peito
E as palavras como vômito
Foram provocadas
Para aliviar
O sufoco do estomago da alma.

++++++++++++++

Posso te oferecer a tarde inteira
uma noite
A palavra verdadeira
Ser intenso,
Sentir contigo o cheirinho de incenso
Escutar teus lamentos
Fazer-te um delicioso momento
Brincar de Bicheirinha
Chama-te de princesinha
Ler Pablo Neruda
Por esse instante acreditar na arruda
Se possível aceite essa flor seca
Guarde-a no livro mais lido
E umedeça com a água da tua ternura
Assim posso ser tua por um instante
Mas sempre com esse desejo constante
Da tarde, da noite e da hora do orvalho
Despeço-me e por favor peço
Não me queira como objeto.

++++++++++++++

Nosso poema foi feito durante o dia
Adentrou a noite e nós ainda na feitura
Faltou papel, sobrou os punhos, os gestos e o lençol
A água gelada para suspirar os goles de prazer
E o poema no forno
A madrugada chega balançando os olhinhos
E dizendo a poesia já está pronta e pode ser guardada.

++++++++++++++

Hoje é de lua cheia,
Nos quintais e nas salas de desejo
Avoante, radiante, peregrino militante
Vai entoando as cordas da rabeca
Rodopiando o feitiço
pirofagiando o corpo
para os holofotes do luar.

++++++++++++++

Grafismos enrolam buscas e conquistas
O cimento se pinta de fé
As meninas brincam nas escadas de penitência
O salto da inocência
Vejo a cidade do padim, ancorado na estátua,
Sinto a brisa e o aconchego de paz
O impulso me pede para voar
E sentar no cume da escultura
Ver diversidade, cultura
Nas lentes da mente,
Domingo raro
Vivido intensamente
Nos braços do Éden Ciciano
Uma câmera e vidas borbulhando
No sol colorido dos rastros da memória.

++++++++++++++

Entre as gotas do céu
E os relampejos da alma
Desboto-me em andanças
Um dia te quis menina, Yemanjá e feiticeira
Noutro mulher, guerreira e conversadeira
Agora...te quero liberta, voando pelos céus
e sentindo o calor do cariri
e o chorinho dos céus.

++++++++++++++

Deu vida aos doze
Agora tem dezoito
E três vidas
Corpo de menina
Cara de solvente
Boca enviesada por falta de dentes
É a palhaça,
Somente a palhaça anônima
Que se mistura na seriedade da vida
Mas que sonha ainda como criança
Como as suas crianças...
Ela brincou na palhaseata
e contou a sua história ao capitão Maionese
que viajou sobre sua espingarda de flores
levando consigo as lembranças
de uma inominada
que teve como amores
os atropelamentos, nada naturais
cicratizes abertas entre dores e risos
assim se constrói
essa flor seca
retrato trivial
das crianças violadas
nos quintais silenciosos das madrugadas
e nos mormaços das calçadas.

++++++++++++++

Deixei meus sapatos e minhas roupas em casa
Sair livremente pelas ruas da cidade
Invadindo os olhares convictos de dores e de pudores
Performatizei o real,
efeito colateral
Nesta vidinha artificial
...os sapatos e as roupas
Ficaram dentro do liquidificador
E ele girou
E eu? Ah, eu voei....
Sem amarras e sem armas
Para amar cada pontinho do céu
Toca nas nuvens
E abraça o vento
Dormir na lua
E se esquenta no sol...
E minha casa se fez mundo...
Para tantas Marias e Raimundos.

++++++++++++++

Avesso o poema noite e o poema dia
Noite e dia um poema singelo
um poema magrelo
ou uma poesia assanhada
defino os caminhos, os meus
tomo posições e bebo das palavras
que atravessam o poço dos amantes fraternos
atropelo o tempo para não perder o teu nosso momento
e vou tropeçando nas quimeras deste brilho leve e flutuante
que me faz militante

++++++++++++++

A poesia com cara de mar se afogou
O poema de tão magrelo morreu de anorexia
e o dia ressuscitou, tão diverso,
num emaranhados de complexos versos
mas ele veio escaldante e aquarelável
poeticamente fraterno
veio assim
Dia amante.

++++++++++++++

A menina pequena de olhos doce
Contava entusiasmada que do horto
Avistava um mar
Contava com uma verdade palpável
Que me convencia e contorcia minha atenção
Ao sair da topique
Ela me disse tchau
Na volta encontrei a mesma menina de olhos doce
Que me olhava e me dava novamente
um tchau
Só que desta vez os seus olhos estavam iguais ao do mar
Que ela avistava no horto,
E o meu mar se unia ao dela
A menina se chama Letícia
Seis anos
Sem planos
E um turbilhão de fantasias aflorando...

++++++++++++++


Queria despir todos os botões da minha insensatez
Fazer do teu corpo um rosário para minhas orações
Ritualizar como no Sutra
Acordar os vizinhos com cantos indecifráveis
E me vestir lembrando cada conta do teu corpo
E no outro dia quando a alma estive em procissão
Boca, olho e tentação
Reservemos um tempo para nossa oração.
++++++++++++++

Camarada
Seguiremos caminhos
Alguns juntos, outros soltos
Avoantes
Seguiremos amantes
Alma minha amada
E no meio do encontro comungara a caminhada
Filho do mundo, obra da vida
Nem pai, nem filho, comparsas
Nas horas amargas
Nos tiroteios da mente
Força leal e conseqüente
Alento dos meus caminhos
Botão de seiva
Camarada veia.
++++++++++++++

Na luta me convenço
Que a poeira, a pedra e a rasteira
É o terço da barricada
Deixo a cadeira
Em plena madrugada
Antes de acordar o sol
vou dançar no terreiro,
ler o livro molotov
gerar uma poesia,
para estancar a azia...
No passo, no braço, no traço
No alvoroço, com a faca no pescoço
Vôo com a navalha da convicção
Para construir a engenharia
Operária da revolução.

++++++++++++++

Cativa
Nossas terras violadas
O rio que nos separa
E as águas que nos juntam
Além dos rios e das terras
A vida, os braços
De um povo que se mistura
Mas que resguarda
A simplicidade, os rastros da ancestralidade
Dos povos nativos
Ativos
Desejos violados
Corpos encarnados
Assim rema em novas águas
A nativa, Ativa
Amazônia
Das mais belas histórias
Do povo da mata
Que deságua e cativa.

++++++++++++++

A tua saudade é companheira
Ela escreve uma estrada
Apertada e vermelha
Em cada passada
tem cheiro, gosto e o rebolado
deleitoso do teu sorriso
que vem como pisca-pisca
temperado como isca
para fisgar a ternura
essa danada que não é tua filha
mas se coloca com tua criatura.
++++++++++++++

Deixe exposto
No centro do quarto
O poema gozo
Aquele poeminha
Pintado com música de ninar
Temperado com a massagem intensa
de nossas mãos desejosas
olhos confidentes
sorrisos de Monalisa
tarde pacata
de um encontro explosivo
de uma lembrança encantada.
++++++++++++++

Ousa neste tempo
Que ainda tentam te oprimir
Sobe contra as muralhas
Aponta em cada ponta
Lança palavras de rebeldia
E faz preces
A protetora da felicidade
Santa Eva
E entorpece de alegria os jardins solitários
Faz careta e dá língua, como o Mateus
O nosso irreverente personagem
do brincante reisado
Corre pelos matagais e pelas ruas
E grita, grita, grita, grita
Como fazias nos tempos de criança
trepa no cume da árvore
e lança teus desaforos
Quebra a cama, a mesa e o fogão
Toca fogo nos sonhos proibidos
Virá revolução

++++++++++++++

Pétalas como búzios
são jogados no tabuleiro do prazer
ventos que sacodem a alma
e fogo que aquece a ternura
algo a dizer
a cada pétala
que atesta a lembrança
da tarde quente e do banho de sol
o vestido florido
e o decote deflorado
a bebida gelada
e a conversa molhada
a palavra sincera
e a confidência direta.

++++++++++++++

Mando-te um doce
temperado em azeite
Para oferenda de orixá
Mando-te águas de Iemanjá
A fita do padim
O cheiro do jasmim
Os colares de guia
Para saudar a sabedoria
Mando-te a foice
Para abrir caminho
O manifesto comunista
Para sentir o cheiro pisado da terra
E a sensibilidade que nos impera
Mando-te um do doce...
Coberto de prazer
Recheado de quererquerer
Até o galo cantar pra o amanhecer.

++++++++++++++

Cada verso seu
Foi pousando lentamente
Como amanhecer
O sol se pondo
Clarinho e você dançado
No caminho
Olhinhos como flecha feiticeira
Coloca-me na cumeeira
Pra te ver pertinho
Enquanto mulher sua, tua
Lua
Lua que embriagastes
Ou desvendastes
Esse rebuliço feito fogueira
Como se todo dia fosse
De lua cheia.

++++++++++++++

Entre os dedos e os teclados
Espalho a poeira do contato enferrujado
Para alojar o fogo, como candeeiro na alma
Para expulsar as quatro paredes
E as seis sessenta e seis incertezas
Finda a noite e o teclado geme
Escuto tiros
E vejo sonhos.

++++++++++++++

Vou ganhar essa noite
Desvendar o cheiro de enlatados
Cobrir-me de cansaço
Avermelhar os olhos
Jogar pedras como se jogasse bolas
Na retaguarda silenciosa dos postes guardiões das noites
Refletir sobre os sapatos gastos
E os pratos vazios
E o arco para o qual me deparo
Paro,
Lembro-me do sorriso de uma menininha suja
(cinco anos)
Que a coloquei nos meus braços
ou ela me colocou nos seus frágeis bracinhos
Como se o seu silêncio fosse um grito
Para banhar a sociedade que lhe sujava.

++++++++++++++

Navegam pelo corpo inteiro
Friozinho de dizer ui,ui,ui...
Derretido barquinho certeiro
Naufraga nos teus meios
Faze-se canoa, aquele brinquedo que vai-e-vem
Que vai-e-vem
Que faz de teus olhinhos roda-gigante
Pedido, desejo, implante.

++++++++++++++

Na boca calada
Do barulho de felicidade
Descansa uma alma
Regada pelo vento
Do sorriso leve
Atrás do manto cinza
Esconde-se o corpo aéreo
Encarnado pelas travessuras
De uma estação de borboletas.

++++++++++++++

Vem como menina
Com versos nos lábios
E calafrios na alma
Vem rimando com o olhar
Tropeçando nas palavras
Deixando o sorriso cair
Rodopiando em dança de cisne
Vem fraterna,
Sem as cobranças de um cativeiro.
Alexandre Lucas

++++++++++++++

Amei com açoites
Com canções de lamentos
Juro, Amei
Possivelmente ainda amo
Amei e escrevi versos de contradições
Rasguei-me em tomentos
Amei de faca em punho
Num trato destratado
Num calabouço insano
Sentir teus gritos, meus gritos
Nosso prazer e nosso ódio
Deveras amei,
Como amam os cegos de mundo
No amor da propriedade privada.

++++++++++++++

Versos meus são versos seus
Versos nossos,
São bandeiras de sangue
Palavras de suor e vida
Entre Trincheiras e guaritas
Transborda o sonho
Transita a carne
E nós poesia
Entranhados na vida

++++++++++++++

Grito com voz de pedra
Choro lágrimas invisíveis
Corro sem destino
No galope da dor
Adultero a trivialidade
A cabeça dói
O corpo se flagela
Mas o tempo vai
Seguramente ele não vem
A caneta vida, banhada de aflição
Escreve os martírios
Regando os lírios de amanhã.

++++++++++++++

Em cada mesa proletária
são celebradas dificuldades
É dividida a fatia do pão que falta
Alimentado a consciência
Desmascarando a continência
E a faca posta unida corta
A penúria imposta
Mas haverá a primavera
Que reza que em cada casa
Brotará banquete de uma nova era

++++++++++++++

Sou artista da rua
Entre os fragmentos da cidade
Encontro-me em cada pedaço
Pedras, terra e concreto armado
Relógios ditando o tempo
A vida em redemoinhos
Asfalto pondo caminhos
A cidade é a galeria sem fronteiras
Nela exponho telas da vida
Num trânsito humano
de retalhos desumanos
Nas entranhas das paredes,
Nos campos abandonados
Nas casas desguardadas
Obras de povo
Obras para o povo
Obras com o povo
A rua é o meio
O povo é o estopim

++++++++++++++

Que a poesia escorra entre o corpo
Que ela banhe a sensatez do prazer
Que corpo seja palavras tocadas
Que palavras ritmadas
Sejam poesias

++++++++++++++

Sou meu,
Sou barco sem governo
Sou sonho passageiro, espinho curto...
Bulo...nas certezas....
Me completo em cada soma incerta....
Sou partido....tenho parte aqui e acolá
Mas intero em posições ...das quais não arredo
Protesto em jaula....
E canto o mais belo canto...
Quando preso estou nas doces e amargas correntes da liberdade...

++++++++++++++

Entre a linha o tecido
Fui costurado
Lembro dos botões de metal que me incomodavam
Quando criança,
Naquele vestido marrom, acho que marrom
do zumbido da maquina que me alimentava
das roupas novas que desfilava, as vezes, nos finais de semana
e ai fui sendo costurado com o incentivo, a presença e o tecido macio
do afago das mãos que pouco me tocaram...
mas que sempre estiveram aqui pertinho me protegendo
por trás da maquina, tem uma das Marias, tem minha poesia,
mainha
que se chama Lia...

++++++++++++++

Foi na oficina entre as facas e os martelos
Entre couro e a cola
No mexido e na batida
no acerto e desmantelo
que empunhei a invenção
Ouvindo o rádio à válvula
E vendo pai esculpindo couro
E parindo calçados
Subindo escadas,
Fazendo carro de lata
Andando de bicicleta
Com uma só pena
Sem ser atleta
Um escritor de sonhos
Mestre Raimundo
É o meu mundo.

++++++++++++++

Acreditei em todos os momentos
Embriaguei-me com uma garrafa de mil palavras de amor,
Cheguei a confundir a noite
E a usar medalha de honraria
Até sentei sobre o meu escudo
Carregado de tintas de liberdade
Beijei o fogo e me fiz chamas...
Mas veio a chuva que arrastou minha embriagues
Quebrou a garrafa de mil de palavras de amor
E cada palavra, se fez pássaro e se fez peixe
E amor pode voar e ganhar os mares