quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020


Vamos beber do nosso sabor
Virar os olhos e rebolar a noite
Liquidar o ventre e nadar nos sonhos
Fazer um verso carnívoro após cada verso
Amolecer a carne, transitando de prazer
Sejamos o poema descascado na língua   
Poema nu,
É palavra que se espalha, é letra que enrosca
É sumo que se explode
É canto de calmaria
O poema nu é tanta coisa  que nunca bebemos por completo.

Alexandre Lucas

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Já não socializamos nossas carnes
O frevo e o beijo foi adomercido em carnavais passados
O vinho de final de tarde navega em outros mares
Mesmo assim  o verso se refez
Numa estrada de muitos caminhos e uma só  bússola
Germinada no dia do trabalho
Caminhamos com seis pernas e carregados de motivos para caminhar
Na estrada vou colando
A palavra gratidão
Sobre os escombros e as cicatrizes
O poema se edifica
Ainda se faz argamssa com flores e ternura.

Alexandre Lucas

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

O sutiã preto desenhava com clareza
A delicadeza dos teus seios
Que façamos a ligação da voz, da boca e do sonho
Da noite e do dia
Ainda brincam as palavras e as crianças no meio de nós
E o sutiã? Ele já não existe mais.

Alexandre Lucas

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O chá era apenas uma desculpa
Como tantas outras desculpas
Para se encontrar com o sorriso
Entre as duas xícaras 
Estava quente o desejo, 
Fazia sol no meu intimo lugar 
Para alimentar a flor de Frida
As mãos ainda trêmulas
Buscavam encontrar a casa
Para se fazer lar
A boca parecia ser um caminho incerto
Os olhos arregalados
Pronunciavam inúmeras profanidades e reticências
Enquanto isso a vida transbordava 
E o amor cheio de carne e sorrisos
Passeava deixando lembranças
Já é hora de inventar outra desculpa
Dessa vez para sentir o gosto do chá
Nos teus lábios.

Alexandre Lucas

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Gotas de limão para salivar o desejo
Num tempo árido de afetos
Azedo é a solidão companheira da melancolia
Entre mil redemoinhos, força
Para espremer os limões   secos
Ainda quero falar de amor
E fiar a língua entre  pontos
e vielas de sonhos
para assassinar a carência.

Alexandre Lucas