quinta-feira, 31 de janeiro de 2019


Vi um menino chorando na multidão
Falava sozinho, resmungava
Olhava de lado e continuava sozinho
O choro dizia o não dito
O grito que no meio da multidão continuava sozinho
Como a formiga que não sobrevive no meio do mel.

Alexandre Lucas  

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019


Não decoro versos e nem formulas
Esqueço da chave e de fechar a porta
As vezes esqueço-me no pé do altar
Deixo o feijão queimar, porque esqueço
Outro dia esqueci que estava nu
Sair pelas ruas, sendo eu
Sem rótulos e roupas
Isso é raro,
Desde cedo nos colocam roupas, inclusive aquelas que não gostamos
Isso não tenho como  esquecer.

Alexandre Lucas   



Enquanto tomo café
Penso num desejo quente
Começo a caminhar
Nas estradas flutuantes do pensamento
Logo começo a rir
Esse teu olhar me desmonta de felicidade
É possível ver e  sentir, algo além das nuvens, talvez o azul   
O azul do mar, do céu e dos olhos  
Da imensidão do andar  e do abraço de flor
A praça guarda lembranças verdes
Que alegremente insistem em não passar.

Alexandre Lucas

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Tenho mais que uma boca para dividir
Tenho a palavra e a língua
O dialogo e a caminhada
As estrelas, o verso e o riso
O tempo maior que as nuvens e a companhia da cama, 
mais que um beijo, mais que um dia
Tem uma canção que não se canta só
E que se aprende a cantar de um único jeito:
cantando.

Alexandre Lucas

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019


Podemos tomar um sorvete
Com o sabor do teu tempo
Tem tempos de sabores quentes
De línguas e olhos acoplados
De sorver,
De brincar com sorvete derretido
E de sentir o gosto do bordado da vida   

Alexandre Lucas

O beijo suave  bordava a tarde
Nós quentes faziamos versos de suspiros e delicadeza
Branca macia e avermelhada pele
Lençol de encontro
 A noite chega e o desejo madruga
Teu riso tatua lembranças
Cada  tarde se renova afogueada de nós e cheia de cetim.


Alexandre Lucas

domingo, 27 de janeiro de 2019

Eu que não escrevo cartas de amor
O arrumo o quarto, sempre fica algo bagunçado
Prefiro apenas meu cabelo bagunçado
Pelas tuas mãos
Essas que escrevem poesia 
Sim, poesia, sem texto
Com língua e tudo
Eu que não preciso escrever cartas de amor
Assanho-me todo, só para dizer que o quarto está ficando organizado.

Alexandre Lucas

sábado, 26 de janeiro de 2019

Vamos de mãos dadas
Tem um caminho verde, cheio de esperança
Fitas coloridas que vibram cheias de fé
No teu silêncio
leio a carta de  afetos dos teus olhos
Falam mais que todas as  palavras juntas
Sentamos
E aos poucos vamos debulhando com pressa o encanto 
Cobriremos as ladeiras mais altas de beijos
Só para descemos de mansinho.

Alexandre Lucas

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019


As flores ainda existem
Mesmo lapidadas em rochas magmáticas
Inventemos de ser felizes  
Com trocados de carinho
E maciez no olhar
O beijo, o toque e o sorriso, apenas isso
Já carrega incêndios de felicidade
Hoje é sempre outra poesia , num intervalo da cada meio dia.

Alexandre Lucas  

Amarelo, alecrim, alegria
Tempo para chorar de rir
Tem uma rosa para se fazer 
Céu para brincar
Voltar a sentir
O encanto
da folha seca  dançando com o vento
Logo, invento de me abrir com 7 chaves
E  escamcaro o verso do desejo que se espalha pelo ar.


Alexandre Lucas

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019


Estamos em romaria de afetos
O céu está ao alcance das mãos
Peregrinando a esperança
Sinto tua boca no meu olhar
Azul,  verde e vermelho   compõe o rosário
Entre sabores vamos orando
Neste rosário de flores,  profano e  sagrado
O instante é tão intenso
Como brilho nos olhos
Que se faz verso tecido entre a carne e a alma.
Como o rio que não se separa das margens.

Alexandre Lucas  

domingo, 20 de janeiro de 2019


Entre dedos que não se tocam
Nos tocamos
Esbugalhamos sensações,
Nas telas, palavras
Carregadas de nós
Palavras, nunca são só palavras
Afagam, despertam, descobrem
Mas também criam monstros,
Metralhadoras que disparam
Dissipam
Param  
Palavras que não nos faltam, até mesmo quando falta
O silêncio é cheio de palavras.

Alexandre Lucas

sábado, 19 de janeiro de 2019


Gosto mesmo é de café com mãos
Um sopro para esfriar o pé do ouvido
Nós sendo xícara e nos bebendo
Corpos quentes, como um café no ponto.


Alexandre Lucas       

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Que a boca seja família
Fico pensando no que a boca é capaz de fazer
Até reviro os olhos,
Mas também fico espantado  
Mas logo penso que família nem sempre é aconchego
Saudades tenho de muitas coisas
Inclusive da família e de algumas bocas
Tem horas que sinto vontade de gritar
Palavrões de prazer e choros presos  
Espero mesmo é um abraço
Desses que conversa com o corpo e traz sorrisos
Sempre reencontro família, boca, amizade e amor.

Alexandre Lucas 

terça-feira, 15 de janeiro de 2019


Nosso encontro, ainda não encontrado
Pode ter estações de corpos elétricos e quentes
Nos momentos de melancolia, sejamos fuga
Fugazes, sem deixar de cultivar
Colinas de encanto
Que a vontade não seja,
Um ponto para esperar
O sol desaparecer.

Alexandre Lucas      



Decreto o credo
Escudo é bíblia
Arma de fogo é testamento
A bala é a palavra do diálogo do tomento
Reescreveram o evangelho
Trocaram verbos, adjetivos e substantivos
Sobraram antônimos.
O homem de bem escreve a lei, somente a sua
O homem de bem ora
e mata.

Alexandre Lucas  

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019


Quero te riscar toda
Com a ponta da língua
Escrever rabiscos na tua boca
E na beira dos grandes lábios
Fazer as mais importantes anotações
Escrevo em linhas onduladas
Um texto sentido   
Na trepidação entre a  pele e a língua
A gramática do corpo
Vai se compondo no momento
Descomportadamente culta
O texto escrito a dois se dissolve
Como um poema de açúcar.


Alexandre Lucas

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019


Todos os dias picho:  eu te amo
O amor é subversivo
É canção que nunca se canta só
Estandarte de afeto, buquê de dor   
O amor, filho,  é dicotomia
Parece com a poesia
Que se tece com os fios da vida
Cheios de cores e misturas,  
Fios rígidos e frágeis  
Que vão costurando horizontes
Cheios de pássaros
Assim como nós
Que voamos e amamos
E como o pão de cada dia
Não pode nos faltar
Vou continuar pichando: Eu te amo.  

Alexandre Lucas


A boca  é um cinema de tesão
Em pé  sinto a cena
Entre uma volta e outra
Um recomeço de harmonia
Calma e apressada
A boca
Vai compondo a chegada
Que se espalha de vida
Pelos lábios
Entre gemidos agudos
A paz se instala
E o amor se faz uma cena sem fim.   

Alexandre Lucas

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019


Importa o pão que nos falta
E a guerra que se faz
A fruta tóxica, a morte
E a vida Severina
O menino embrulhado nos jornais
O motivo não é rosa, nem azul
Eu quero a paz, a barriga cheia e tempo para brincar
Nada vem apenas com as palavras,
Continua sendo tempo de lutar.

Alexandre Lucas   

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019


Escrevo num borrão

palavras que dissolvem

Entre fagulhas e névoas

Um desejo infinito que não se guarda no túmulo

A palavra grita embaixo da pedra

Mas ela é arqueira

E a qualquer momento seu grito voa.

 

Alexandre Lucas


sábado, 5 de janeiro de 2019

Faz sol camaradas
A estrada pode ter poesias
Mas faz sol
Podemos ficar com sede e  a pele ressecada
O caminho é longo,
E cheio de frutas e lutas
Quando a noite chegar
Precisamos comer
Da poesia que nos enche de esperança
Ainda vai fazer sol
Precisamos caminhar
E encontrar a porta do desejo a cada dia.


Alexandre Lucas

Quando for do nosso desejo
Caminhemos juntos,
Pelas manhãs, tardes, noites e quem sabe pelas madrugadas
Não será todos os dias e nem pela eternidade
Talvez tenha o tempo do café
Ou do baobá
No caminho
Partilhemos da luta, do  pão e da carne
Se for do nosso desejo
Publicaremos na nossa alma
Nossos encontros
Que ele seja incenso,
E não pólvora
Mas que não falte fogo
E que vire incêndio de sorrisos
E  quando não for mais possível
O poema continuará
Por um tempo sozinho
Por outro compartilhado
Mas livre para sonhar.

Alexandre Lucas   

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Na nação e pátria do desejo
O verbo da persistência não é novidade
A luta diária tem vontade
De cirandar a felicidade
Enquanto a ciranda não se faz
A resistência se tempera
Pois desistir jamais.


Alexandre Lucas
Despeço-me
Tentei
Dentre tantas vezes tentei
Sou tentador
Sem nunca tentar buscar a dor ,
Ela vem
Pensei  que o amor era como a poesia
Bastava escrever e  estava pronto
Prefiro  tentar escrever poesia
Porque o amor não se escreve .

Alexandre Lucas