segunda-feira, 30 de março de 2020



Leva a birra e a raiva
Faz despedida do peso
Conversa com teu silêncio
Deixa as lágrimas saírem
Procura na relva
Sombra e som
Debulha a saudade
Para se reencontrar com o riso
Escutar a cantora que baila tua alma
Segue como uma folha levada com o vento
Para encontrar com outras folhas e juntas voarem.

Alexandre Lucas       



No interior das minhas lembranças
Trago algumas fogueiras
 O desejo de viver intensamente
A saudade dos braços quentes e acolhedores
Na mudança fui deixando ou fui deixado em outras casas
Pedaços que se espalham,
Vontade de saciar, de beber na boca e de ler nos olhos
O verso contado na cama.

Alexandre Lucas   


 O que tem no miolo da nossa luta?
A ancestralidade dos meus e dos nossos
O pote e a luta braçal   
A preta , o preto, eu que não sou preto
o popular, a ciência e a resistência
A fogueira para esquentar a alma
Lembrar das mulheres queimadas na fabrica  
O terreiro para aquecer a esperança
As crianças nos ensinando a repensar
O verso estampado nos nossos passos
Bandeiras encarnadas
E sonhos sem gaiolas.

Alexandre Lucas 

domingo, 29 de março de 2020

Recomeço a cada manhã a desenhar teu corpo
Na tranquilidade da noite, rompo o silêncio
Com fé toco tua pele  
Canta em gemidos a tua liberdade
Faz casa, samba e  amor   
Amanhece, guardo a gratidão
E o sabor enviesado dos teus grandes lábios.

Alexandre Lucas 

Meia-luz, um jazz de fundo
Teus seios desenham xícaras
Tomemos o café dos desejos
Retira o girassol dos teus cabelos
Para assanhar o teu olhar  
Luz e alegria no teu rosto
Sinto na ponta dos dedos
A tua chuva, molhada de prazer
Passo hortelã verde pelo teu corpo     
Contorno teus lábios
Sinto o gosto  ventre
e me faço dança entre teus braços.

Alexandre Lucas        




Estão vendendo na esquina  deus, céu e a felicidade  
O amor entrou em escassez,
Os 10 mandamentos foram fuzilados
A armaminha estava na mão
A fé está perdida entre amar e matar
Na maquineta do cartão passa o pecado e a prosperidade
Não existe paz na guerra
Pessoas passam fome
E o pastor camuflado de cordeiro recomenda o ódio     
Maria, que não segue recomendações
Planta a vida.

Alexandre Lucas    




O terror devasta  sem esconderijo
Bolsonaro se viraliza nas botas e nos lambe-botas
Nos shopping da fé, nos templos de incubação
No homem chamado de bem, cumplice do capital     
Presidente da burguesia, delinquente
Subsidio do ódio
A saúde mental se desmorona   
Marx que não é santo preconiza
Trabalhadores, uni-vos. 

Alexandre Lucas

O estado de desejo não tem ordem
Chegar de qualquer jeito, sem governo
Faz caminhos que os olhos viram
Sobrevoam a imaginação
Em dias frios e quentes,
A satisfação se borda
Numa trama que não se tece só.

Alexandre Lucas 

sábado, 28 de março de 2020


Amargo deixa só o prazer de tuas entranhas
Vamos induzir o fogo
Desvestir a curiosidade
Espalhar a língua e desmedir o pudor
Faz calor e já estou nu
Áspero de desejo
Descrevo retalhos
Peles costuradas com suor
Horas dedicadas a transgressão da palavra
E da calmaria.

Alexandre Lucas 

sexta-feira, 27 de março de 2020

As notícias são comidas numa sofreguidão
Só é possível ver as manchetes
Os conteúdos se perdem na velocidade dos conflitos
É uma masturbação de ideias sem gozo nenhum
Fé e perdão, talvez seja necessário, mas é preciso ação
A vida está longe de ser resolvida no coração
É  preciso reduzir a velocidade das falsas notícias
Quero sentar na calçada e ver despreocupado
A amplidão da casa para o tamanho da formiga
Sentir o tesão com calma e por partes
Esse tempo veloz apressa os nossos desejos.

Alexandre Lucas

quinta-feira, 26 de março de 2020


Escuto latidos nos centros comerciais da fé
Na sua prosa e risada  
O vendedor no seu estridente microfone
Vende toneladas de vento, aurora e prosperidade
O céu está em suas mãos     
Logo o inferno estaria entre nós
E o amor? Esse virou uma navalha de ódio
Que corta a sabedoria e a razão
O canto da imbecilidade está em marcha
Não levante os braços, é um assalto na certa  
Prepare um café e dialoguemos sobre outro amor.

Alexandre Lucas 

A mala continua pronta 
Deixo sempre próxima da porta da saída
Mesmo com os sapatos gastos e os cabelos brancos
É sempre o momento de desabastecer a dor
De encontrar amoras, tomar leite quente
Duelar com o nariz, Sair do atropelo
brincar com som da cabaça e  da caixa com os seus  comprimidos
Fazer samba e cultivar o nosso carnaval.

Alexandre Lucas   

terça-feira, 24 de março de 2020


Tinha que ser rápido
Naquele instante
Meia roupa, bocas coladas,
Trovões dentro e fora
Calor e sussurros tomando o quarto
Sonhos em volúpia
Antes do gozo, uma batida na porta
O caos indesejado se instalava
Rostos desconcertados
Daquela manhã guardo
As palavras, o sabor e a súplica de prazer  

Alexandre Lucas


A poesia sentou na travessia da vida
Conversou com a alegria e a tristeza
Fez silêncio para escutar a sua voz
E viu que os valores dividiam os sonhos
Umas famílias comiam e outras olhavam  
E a cada travessia, os punhados de versos
Transbordam  des/confiança.
     
Alexandre Lucas

segunda-feira, 23 de março de 2020



Falta quanto tempo para tudo isso passar?
Entre as paredes a solidão se estende a outras paredes
O dissabor é servido por insanos maestros
O coração parece diminuir, parece que estamos de partida
O surto institucional anuncia a barbárie
Tem um mundo que pede socorro
E socorro nasce em cada casa  que não pode esperar pelo amanhã.

Alexandre Lucas   


Só para rimar
Combina empatia com poesia
Resiliência com resistência
E fé com café
Na receita pronta da vida
O amor se encontra na bula
A rima na bússola
E o  sentido perdido   
Próximo do discurso
Conjugue a ação
A luta nos ensina
Que a vitória é casada
E não é filha dos bons modos
Mas para que servem os bons modos?
Para calar a solidariedade
Para presentear as mulheres durante o dia
E assassiná-las durante a noite?     
A rima que combina o belo com a contradição
Não preenche a poesia
E nem faz revolução.

Alexandre Lucas 

domingo, 22 de março de 2020



Faz frio, o tempo está deserto
O amor se perdeu no caminho
O filho sofre,  o trem da comida atrasou
Talvez não cheguei hoje e nem amanhã
As ovelhas estão entre as cercas
Fazem um lençol branco
A fome me encontrou no caminho
Combinei com ela
De derrubar cercas
E dividir carnes.

Alexandre Lucas
   

Vou partir a dor e o medo
Em pedaços tão pequenos
Que se perderá entre os átomos
Vou parir o reencontro da palavra e do amor
Da leveza e do sorriso
Não é o fim do mundo
O poema sobrevive ao lance
A dose  ácida das botas acefálicas
O Arrependimento
Foi deixar o silêncio tomar contar do sentimento
A todo instante escrevo só para gritar uns desejos.

Alexandre Lucas

Entre inúmeras palavras
Trago bordados de encontros
Linhas de beijos, pontos de abraço
Um picolé derretido nos lábios
O batom vermelho, o fogo
A agua na boca
O verso das línguas
O carinho do olhar
O girassol de Van Gogh na parede
E o amém do amor nas cartas da memória.

Alexandre Lucas




Saquearam a poesia da cidade
Franquearam o modo de sorrir e de vestir
Os rostos cinzas parecem estátuas ambulantes
E o obscurantismo faz vigília
O amor se tornou proibido
O ódio se pulveriza no ar
Tempo nublado
A melancolia faz roupa
Agito uma lata de spray
Para desesconder a política
Fazer da bila samba, otimismo
O verso resistência não é harmonia
É Sacolejo, é capoeira
É rinha
É choro e um mundo para tomar
Para fazer do mundo, um sol,  
É de todos e não é de ninguém.

Alexandre Lucas
   


Onde passeia a solidariedade?
As ruas estão desertas, os gritos foram ensacados
Dos umbigos querem fazer a humanidade
A fé já se vende nos shoppings centers
E nos templos espalhados em cada esquina
Os tribunais de pós-verdade se espalham no mundo
A velocidade das notícias falsas perde para velocidade da luz
A saúde se esconde por trás das partículas
A palavra tóxica se espalha como um vírus capital
É preciso se proteger
A perseverança não morreu e a esperança continua paquerando a união.

Alexandre Lucas  

sábado, 21 de março de 2020


Estávamos no quarto da natureza
Tocava e banhava teus pés
As borboletas e os pássaros faziam a melhor composição
A conversa parecia ter braços e  tocava por dentro
Queria jogar com nossas línguas
Brincar de atravessar
Penetrar nos teus olhos e sentir teus suspiros
Fazer chuva de brilho
E deixar viver  
A poesia no poste
O mar que nos carrega
E vento leve que nos faz sorrir.

Alexandre Lucas   

sexta-feira, 20 de março de 2020


Pelos meus e pelos nossos
Pelos que tombaram,
Pelo pão que faltou entre camaradas  
Pelo corpo jogado no jogo
Pela palavra atravessada
E os corpos desaparecidos
A lágrima escreve uma história
Que nos aparta e nos une
Ela se conta nos palmos de terra e de sonhos
Os sonhos sempre são maiores que os palmos de terra
Os corpos tombarão
e a cada noite, o amor e a desordem  
Nunca será união
Haverá um tempo, que pelos meus e pelos nossos
Não haverá capitão do asfalto
As casa e as fabricas serão tão nossas
Como os nossos sonhos.

Alexandre Lucas   

quinta-feira, 12 de março de 2020


Toca uma música incompleta
Busco as palavras e encontro labirintos
Os números espalhados nas estatísticas dos afetos
Deixa-me órfã
Estou correndo, as vezes não percebo os livros no caminho
Esqueço de tomar água e a comida se estraga no esquecimento
Enquanto derreto o chocolate doce na boca
Imagino a flacidez dos lábios mordidos   
As colinas aladas dos braços, seios.
Dançando nas mãos, num malabar de prazer
O cachorro late, quebrou o ritmo, e por acaso entrou nesta história
Volto para o espaço onde se tece o desejo
Fico entre a palavra e a imaginação
Enquanto teu corpo desfila na minha língua.

Alexandre Lucas  

quarta-feira, 11 de março de 2020

Sequestra esse tédio
Joga tua língua, num jogo de vem e vai
Bebe o vinho espalhado no corpo
Solta nos ouvidos a palavra delícia
Teus cabelos assanhados
A boca voraz que   vasculha
O canto do corpo
A mãos deslizam
Enquanto adentramos nos céus.

Alexandre Lucas 

domingo, 8 de março de 2020


Antes de entrar na casa
Pergunta
A porta pode esta escancarada
Pode até não ter porta e a casa está fechada
A lua mandou avisar que nem toda noite é de amor
Mas que toda noite ela estará ali presente
A casa tem uma lua toda noite,
A lua é a lua
A casa é a casa    
E nós temos luas e casas
Tanto a lua como a casa têm a nossa presença
Deixamos entrar e transbordar o afeto e a pedra
A vezes pegamos a pedra para jogar no rio
E sentir a música da pedra beijando a água  
Existe uma luta, nas casas abertas e nas casas fechadas   
As vezes nos tacamos dentro de casa
Outras vezes nos jogamos na rua
Para sentir o vento
Ver a flor branquinha
No meio de nós
E a boca pronunciado palavras não tidas  
Enquanto penso na dança das línguas
O momento fluir
Com a partilha da noite e as águas do dia
Os corpos se guardam nas suas casas
Mesmo vizinhos e próximos
Eles só se conectam quando se abrem as portas.

Alexandre Lucas  

quarta-feira, 4 de março de 2020


Hoje tirei minhas roupas
Fiquei-me olhando
E vir que minhas expectativas não são pequenas
Fiquei nu
Dançando na cassa, enquanto escrevia
Tomei alguns goles de café
Olhei pelo espelho e comparei com algumas fotos
Continuei nu
E ouvir uma voz estranha
Insistentemente dizendo:
Veste a roupa a esconde tuas verdades
Teimoso
Quero ficar é nu
Só para saberem das minhas expectativas.

Alexandre Lucas  

terça-feira, 3 de março de 2020

Conversa o corpo e o poema
Na nudez do vento
Olhos cintilantes e ventre envolvente
Contrair, ondular e vibrar
Ousar, ocupar e afirmar 
Ventania que retira véus que encobre dores
Corpo em movimento, sedução de si
Político é o corpo que quebra os diamantes de pudores   
O vai-e-vem é apenas um ensaio para outro mundo,
Com dança, corpo e poesia.

Alexandre Lucas