sábado, 4 de fevereiro de 2017

Quando vejo a rede penso no fogo
Nas juras de amor,  no amparo da parede
No olhar embriagante
Junto tudo
e faço fogueira  nas lembranças
elas insistem em permanecer
entretanto, se antes tinha gosto de chocolate
fiquei diabético e quando me vem a lembrança
só lembro do gosto do pimentão
Odeio pimentão
Pausa, até me veio uma ânsia de vômito.
É isso que os pimentões me causam.

Alexandre Lucas


Que o corpo não seja apenas
A selvageria que se quer
Uma válvula para extorquir prazer
Ainda em tempos de posse
A extorsão do gozo é uma liminar do patriarcado
Que o gozo seja mais amplo
que se entrelace entre as conversas ao pé do olhar
e aos sussurros de tremer pescoço
que ele tome banho após o riso
e que sem pressa  ele preencha de delicadeza
o corpo, os seus contextos e a selvageria.

Alexandre Lucas

Tuas pernas desenham sexo na minha cabeça
Inevitavelmente,
Mas prefiro as passadas das tuas palavras
Que fazem andança profunda
Nas curvas da minha admiração
O que seria das tuas pernas sem a composição das tuas palavras?
Poderiam elas afinar, engrossar, enrugar e encabelar  
Só não pode você faltar  com a palavra.

Alexandre Lucas

Todas fraturas estão expostas
No momento não resta leveza
O sangue jorra com explosão
Os cachos se embolaram com chiclete
Cuspir no chão e não esperei secar,
Ordenei-me, dissipa
cacho a cacho
Um dias eles crescem.

Alexandre Lucas

Desconfio do silêncio
Da cidade cinza
Da franquia da vida
Da robotização da fala
Da propriedade privada
Desconfio de cada fio
Do beijo sem suspiro
De sexo sem orgasmo
Do Deus bancário
Do amor de fotografia
Desconfio de mim
Só desconfio mesmo
Por está vivo.

Alexandre Lucas


Nem sigilo, nem segredo, nem discrição
Um desejo escancarado de acreditar
Todos os holofotes sorriam, até vejo as luzes se abrindo de felicidade ( tudo passa)
 Certo dia, as luzes se apagaram
a lira se fez ira
e o amor? Socou-se no liquidificador.

Alexandre Lucas


Não me peça perdão
Depois das flores violadas
Árido me reinventou na resistência
Como mandacaru bem espetado
Sobrevivo com pouca frescura
O sol tempera
A chuva que se afasta
Aguarde, de tempos em tempos
Brotará lindas e pequenas flores vermelhas num cacho de espinhos
Pegue com cuidado
Ou deixe quieta
Para que ela sobreviva sem feridas.

Alexandre Lucas

Sair com o coração amputado, mas sair
Ganhei um livro inteiro de Maiakóvski para tomar com cappuccino
Com todas as quebras e quedas
Que compõe a sua poesia ácida
Árida,
A sua poesia vida
Veio a massagem
Como curativo da alma
Antes de desmoronar
devore poemas Maiakóvskianos e insulte o vento
Para que ele decomponha
a tristeza em partículas imensuráveis.

Alexandre Lucas


Meus olhos tremem
Não é um ensaio de delicadeza
Os dentes se juntam
Como bicho que precisa gritar
Escuto o barulho do silêncio
Os carros transitam com seus motores na minha cabeça
Leio um poema agressivo
Que mata o amanhã
Defino o horizonte sem lágrimas
Por hoje a ternura só começa amanhã
A terra precisa de adubo
Um corte sangra
É tempo de esperar
O corte sarar.

Alexandre Lucas

Plenamente nunca sou
Os baralhos na mesa
São cartas curtas de histórias inventadas
 Como poemas de açúcar
Tem vida curta
Depois de toneladas adocicadas de afeto, todas com prazo de validade vencida
Sempre desconfiamos
Plenamente.

Alexandre Lucas

A verdade é uma mentira que faz bem
Hoje esmagarei o lirismo
As flores não mucharam
Antes disso tocarei fogo
Encherei uma garrafa de Maiakóvski
E me embriagarei das mentiras mais verdadeiras
Serei curto e direto
Afaste-se
aqui resta fogo
E uma carne ferida
Dos açoites
até daqueles com rosas
Carregadas de fino espinho
Hoje é dia de ficar deitado sem encontrar respostas
De jantar sem luz de vela
De mastigar sem vontade
De arrotar no meio da praça
De chutar todas as latas
De beber toda a lucidez
De trepar com a dor sem nenhum amor
De cuspir na sala
De escrever desaforos
Aguarde
Quando tudo explodir
Um novo verso mentiroso sairá rasgando a felicidade alheia.

Alexandre Lucas

O tempo frio, a chuva massageia a vontade de sonhar
Escancaro lentamente um som instrumental
Fecho os olhos para escrever um poema cacheado
Ele vem Afrodite
Dançando como uma folha ao vento
 Abro a porta e deixo os brilhos rodopiarem
Fitas de cetim se cacheiam na ventania dos desejos
E um pássaro anuncia pelos céus a alegria de voar

Alexandre Lucas


O que será de nós?
Pouco me importa!
Quero provar da maçã
Enquanto tenho fome e ela não se estraga
Quero sentir a mordida que transcede meus sentidos
Sentar na praça e escutar o som dos pássaros
Brincar com as crianças
E sentir a leveza dos sorrisos
Sentir a tua boca pronunciar desejos
Andar lado a lado nas trincheiras de luta
Bordar flores a cada encontro
Fincar presença em cada choro
Ajuntar sonhos
Se nada disso acontecer
 Não culparemos a tentativa.

Alexandre Lucas

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