quarta-feira, 1 de novembro de 2023

 A porta está fechada

Já fazem algumas luas 

As estrelas estiveram lindas 

Mas distantes

Faz frio e não fiz cobertores 

Tem uma música linda no horizonte, já não danço

Algo me chama, talvez a despedida

Tem uma corda que me puxa

Estou fora de casa, a porta está  fechada.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

 Recolho em palavras

Histórias recortadas

A esperança briga com as dores 

A menina fala do presente que não teve

O menino sonha em ser policial 

O amor entrelaça todas as histórias  

Fixadas com espinhos

Roubo as narrativas 

Misturo as vidas

Invento verdades

Escritas com sangue.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

 Quando me perdi

Estava me encontrando 

Aos  12 anos  tomava cachaça

Rezava o pai nosso

Carimbava a cidade

Estava aprendendo a dançar com a língua 

Nas entranhas alheia

Ainda era menino

Dormir nos braços da noite 

E nos abraços  provisórios

Quando me encontraram 

Só conheciam as flores plásticas

Eu tenho  cheiro e um moinho de histórias 

Coisas e gente não se   separam

Se moem

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

 O  menino traquinava sorrisos 

Faz muito tempo  que o  desvejo

Talvez tenha me perdido dele 

O encontrei outro dia,  sorria

Parecia feliz, 

Segurava um telefone antigo 

Mas não entendia dos números 

Talvez quisesse falar com alguém 

Estava de camisa xadrez com seus botões

Deu vontade de trazer para  casa

Mas nos desencontramos 

Talvez ele esteja aqui, pertinho 

Estou tentando encontrar

O  Traquinador de  sorrisos.

sábado, 21 de outubro de 2023

 Andava, nadava, dançava 

Decepei as pernas e os braços

Balanço na rede e no redemoinho de palavras 

A rua enterrou as flores

E as horas enganchou o ponteiro

As lágrimas

Andam, nadam e dançam

O galo  hoje não cantou 

Deu a vez ao poeta 

Cansado, o poeta também não cantou

O poeta lembrou de Kássia Luiza, poeta também 

Poeta desde que a dor  chegou como palavra, 

Ela costura  versos 

Diz que quer celebrar um novo mundo

e ser capaz de   suportar a cidade 

Apenas treze anos, já poeta

Mas quem disse que poesia tem idade? 

A vida não é literatura, quem dera 

Mas a literatura é a vida

Por isso decepo pernas e braços

Encontro com a poeta no fim do caminho e começo a plantar flores.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Na varanda rasgo as últimas palavras

para compor um poema incompleto 

Noite deserta

O punhal perfura o escuro 


Sangra o peito do tempo


O tempo não tem peito


O punhal briga com o vento


Cansado, desmorono da varanda


deslizo entre os galhos das roseiras


Sangra


as palavras voam 


O tempo que não tem peito


são como as águas dos rios


Passam.




quinta-feira, 19 de outubro de 2023

 Trago o soluço e a  barriga trêmula

É despedida 

O céu fica colorido, 

Como  a esperança do reisado 

Que esconde por trás das cores 

A ferida em vulcão

Os tambores precisam ser tocados

Canto fúnebre, celebração de reencontro

Trago as batidas orquestradas 

Na pele do corpo

Corpo tambor

É preciso ir ao sol

Refazer o som

Tocar a revoada.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

 Esperei o verso verde, novo e bordado 

Estendi a tigela, a moeda tinha duas faces, 

Escolhi par, lançado o dado

Deu impar 

O tecido ficou no bastidor 

Aguardado o abraço dos fios

Que desapareceu 

Como as sereias 

Que deixam apenas o mar.

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

 A mangueira canta, o desfile das águas

É manhã, a larangeira se banha

O trem marcha, as casas tremem 

A flor desabrocha

A mulher toma café no meio do caminho, anda rápido 

Busca o pão e se desencontra da poesia

A mangueira canta,enquanto,  a vida briga.

segunda-feira, 9 de outubro de 2023

 Deixei cacos de vidro espalhado na língua

A palavra saiu sangrando

Mas queriam poemas de borboletas 

Simétricos, leves e aparentemente inofensivos 

Sair jogando as palavras nas borboletas 

Só para mostrar que a vida não é perfeita.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

 Sobre nós, somos dois e o meu amor é meu. Ele cabe a mim e aos meus mistérios. Meu  amor não tem regras, bússolas e caixas. Ele não se encaixa entre o certo e o errado, nem pleno, nem plano,  tem mais caracóis que meus cabelos. Meu amor está acordado, sabe dos muros e dos limites, dos brilhos e lágrimas, mas grita, escuto seu barulho. 


O caminho é torto. A vida não é linha reta. Estou preso e solto na estrada e o amor se instalou.


Mesmo não estando sobre o tear das nossas peles, o amor está aqui. Mesmo panfletando a despedida, ele não se despede.


Alexandre Lucas 

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

 Céu e  mar é imensidão onde os sonhos se perdem

Faz calmaria,  devaneio e reticências 

Vejo entre os véus  

Rabisco a felicidade na incerteza

No azul do mar e do céu 

Vou juntado retalhos 

Para tremular a bandeira poesia

Ficada no meio das nossas dúvidas 

Bandeira para acolher

O traçado das nossas línguas 

O verso feito de dedos e pétalas

Incendiar os olhos de simplicidade e ternura. 


Alexandre Lucas

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

 Sobre o amor

Tenho relatório interminável

Algumas rasuras, 

Frases indecifráveis 

Dados frágeis 

Falso testemunho 

Fatos confiáveis 

Páginas que somam  mais de quarenta anos

Ainda tenho  noites não escritas 

Segredos não contados 

E muitas páginas em branco

Outras borradas 

Guardo tudo trancafiado na alma

Sem saber transcrever  boletins de ocorrência do amor. 


Alexandre Lucas

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

 A poesia veio do tamanho da noite

Carregava olhos atentos

Versos de brilhos em silêncio 

Na palma aberta da sua mão            

trazia caminhos de borboletas e enigmas 

Tinha face de flor

Saiu no caminho da lua

Talvez tenha  ido brincar com as estrelas

Talvez volte, a poesia promete. 



Alexandre Lucas

quinta-feira, 20 de abril de 2023

 Sou o poema previsível 

O texto  esperado

O doce não percebido 

O acalanto para noites de trovão 

O dia calmo

O arroz e o feijão

O verso meloso, a bandeira de paz

Hoje tem poesia de novo, grito daqui

Mas a poesia não chega

Tão próxima que embaralha os olhos e tão presente que não faz falta

Insisto, a poesia não declarou viajem. 



Alexandre Lucas

segunda-feira, 13 de março de 2023

 Enquanto o céu chora 

Imagino  a gente sendo fogueira, 

Incendiando nossos corpos 

Tocando fogo na  razão

Revirando a cama 

vibrando os sentidos  

Uivando  de prazer

Enquanto o céu chora 

Debulho saudades

Reviso  teu sorriso

Sinto o gosto do tempo

Servido com bolo de cenoura,  cobertura de chocolate

Enquanto o céu chora 

Você bulina minha cabeça 

Faz versos sem escrever poesia

Quando quer, sorri 

E traz nos braços uma vaso de ternura do tamanho do sol e da lua

Enquanto o céu chora

Debulho o amor, indecifrável

A conexão indefinida 

E acordo o afeto

Ofereço a flor possível, 

Os pés que tenho 

E o desejo de estalar a felicidade, aqui, ali e entre nós. 


Alexandre Lucas


terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

 

Escrevo cartas fora das linhas,

Vou ponteando os momentos

Lembrando dos versos sem palavras

Das nossas mãos e pés escrevendo bússolas

Da partilha do bolo, do suco e do riso

Do beijo e do livro

Vou me embolando nas histórias

Mas é tempo de guerra e despedida

Os lençóis ainda estão molhados

Não aprendi a dizer adeus, nem guerrear

Ainda acredito na carne que se atrita de prazer

No corpo que se protege

No poema cantado pelas manhãs para acordar alegria

e sussurrado a noite para acolher a felicidade.  

 

Alexandre Lucas

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Queria desbravar jardins 

Encher os nosso olhos de brilhos 

Adoçar as manhãs com  abraços quentes

e uns goles de eu te amo 

Andar tranquilamente segurando a tua mão

Fazer cócegas no horizonte

Dançar com a grandeza do teu olhar 

Sentir o ventre e  a silhueta dos gemidos 

O cafuné e o gosto de café 

Escrever poemas para acender desejos e ressuscitar as borboletas 

Quebrar os relógios que marcam o tempo da felicidade

Deitar para ver a paciência das estrelas 

Acreditar no verbo construir 

Desenhar em várias mãos a felicidade do hoje e do amanhã. 



Alexandre Lucas